Todo mundo tem sua primeira paixãozinha e nelas sempre se fica nervoso e paga micos. Com MaGá não seria diferente. Seria bem pior. Sempre que ele e Alvinho estão numa roda com amigos ou, desconhecidos, Alvinho conta uma história de MaGá. Uma não, “umas” e sempre tem a da Graça. E com certeza não foi uma vitória, é sempre uma derrota o que os amigos têm pra contar.
Era fim de ano e ele conheceria Graça. Graça veio de outro estado para ficar no mesmo condomínio de Alvinho, onde ficava com as primas. Veio visitar o pai. MaGá não sabe dizer, mas bateu o olho e se amarrou. A menina era seu número. Não seria nada estranho, MaGá, tímido por natureza fazer algumas besteiras.
A primeira veio logo ao conhecer seus pais. Quando foi apresentado MaGá ficou super nervoso, sem motivo nenhum, pois não tinha relação nenhuma com ela. Era apenas uma paixonite platônica. Mas vai entender... Quando ela o chamou para mostrar o pai, assim como fez para todos os outros amigos, MaGá já começou a suar. Imagino que queria fazer uma boa impressão desde já.
- MaGá, venha aqui. Esse é o meu pai, sua esposa e a filha deles.
MaGá foi ao encontro deles para cumprimentar. Deu dois beijos na irmãzinha, dois beijinhos na mãe e agora restava o pai, o chefe da tribo. Em meio ao nervosismo e na pressa, acabou indo dar dois beijinhos no pai também. MaGá na exata hora em que deu o primeiro beijo já pensava “Mas que merda eu to fazendo?”, mas como já tinha dado o primeiro, foi dar o segundo. Porém no momento em que foi dar o segundo notou a cara de estranheza do pai, que com certeza devia estar pensando em algo do tipo “O que ele ta tentando fazer?”. Espertamente, se é que se pode dizer, pois já tinha dado um “beijinho” no pai da menina, ele emenda um abraço com um tapinha nas costas se fazendo de maluco.
- E aí, como vai o senhor? A Graça disse que veio visitar o senhor.
- É isso mesmo. – responde o pai com enorme estranheza, para deixar MaGá mais constrangido ainda.
Graça reparando na vergonha de MaGá consegue separar o dois e ele vai procurar um copo d’água para beber, nesse período Alvinho vai até ele.
- O que foi aquilo, beijinho no pai?! Hahaha – pergunta com um riso sacana pra cima de MaGá.
- Pô cara! Não faço idéia. Fui beijar a filha, depois a mãe e na hora do pai... foi junto.
MaGá procurou não esbarrar mais com o pai de Graça, por sorte ele já tinha voltado pra casa. Porém ficou para MaGá levar ela pra casa do pai, já que ele morava perto. Na época MaGá era mais novo e não sabia muito bem que ônibus pegar. Foi então perguntar ao seu pai como fazer.
- Pai, to indo pra casa mais cedo, to indo com a Graça. Como faço pra deixar ela em casa, que ônibus deixa ela lá?
- É bom pegar a van em frente ao terminal, passa bem na porta. É só perguntar qual van passa perto do mercado coelho. Ou em vez de pegar o 526, pega o 526-A, esse deixa próximo da casa dela também, mas faz um trajeto diferente.
- E eu? Faço como, solto onde? – pergunta MaGá, o insensível.
- Tu vai ficar perto da praça e de lá você sabe o caminho.
Muita informação pra MaGá, que na época além de novo era mais tímido ainda. Não passava pela cabeça dele ter que sair procurando e perguntando que van passa onde, e nem o local de soltar.
MaGá não sabia o que fazer, uma coisa era certa, não ia sair perguntando pelo terminal. Lá ele pensou em nem dar brechas para perguntas de Graça sobre qual condução pegar, foi indo direto para o 526-A.
- Seu motorista, passa próximo ao mercado coelho? – perguntou MaGá, para evitar surpresas quando estivesse chegando.
- Passa na rua de trás.
MaGá não gostou muito da resposta, “Na rua de trás? Que merda, só pra complicar!”. MaGá então vai sentar com Graça no fundo do ônibus, já ficou meio nervoso, mas não sabe o por quê. Não sabe se é porque está com ela ou se é por não sabe onde soltar. Ele tenta dar a atenção a ela, mas não consegue desgrudar o olho da rua pra ver pra onde ta indo.
Até que ele percebe que o ônibus começa a fazer um trajeto diferente do 526. Ele pira! Nunca tinha entrado naquela rua. Sem pensar duas vezes, e nem mesmo na Graça, ele levanta, olha pra ela e faz uma das maiores merdas da sua vida.
- Graça, meu ponto é aqui. Sabe né, é só soltar na rua atrás do coelho. – diz MaGá com a fala acelerada.
- Mas como assim? – responde Graça, surpresa com MaGá.
Vale lembrar que era a primeira vez dela no Rio.
- Onde fica isso? Eu não sei. – completa Graça.
- Qualquer coisa pergunta pro trocador, ele sabe. Beijos. – responde saindo do ônibus.
MaGá quando desce só observa, rapidamente, a cara de Graça pela janela. Abandona e desesperada em um ônibus que nem ela fazia idéia de onde ia parar. MaGá segue sua caminhada sem olhar pro lado ou pra trás para dar um tchau. Travou e seguiu em frente, só pensava, “Fiz merda! Que merda!”.
No dia seguinte ligou e pediu desculpas, mas ficou sabendo que o pai de Graça gostou, falou que só assim mesmo pra ela aprender, e que já estava na hora de saber como chegar na casa dele. Na cabeça de MaGá, dos males uma coisa boa né, pontos com o chefe da tribo. Mas MaGá encontraria Graça mais uma vez.
Uma das primas fazia 15 anos, e teve uma festa sensacional. Lá MaGá encontrou Graça de novo, e de primeira já chegou pedindo desculpas. Pela milésima vez. Onde se encontrava com ela pedia desculpas, pessoalmente, por telefone, MSN. Graça educada, deixou de lado e só pediu uma coisa.
- Tudo bem, deixa, é passado. Hoje sei chegar em casa. Mas dança uma valsa comigo? Aí eu perdôo.
Para tudo! Alvinho perto de MaGá já avisou.
- Cara, tu largo a menina no ônibus e ela te chama pra dançar? Era você que devia fazer isso né?! Ela ainda quer, não vai fazer besteira hoje. – comenta no pé do ouvido.
MaGá paralisou. “Dançar valsa? Como faço isso, vai dar merda”.
- Vai ter que ficar pra uma próxima, eu realmente não sei dançar e só pisaria no seu pé. – diz com um sorriso falso no rosto. – A gente dança depois na pista, melhor pra você. – completou MaGá.
Alvinho não acreditou no que viu, pra ele MaGá se esforçava pra não pegar ninguém, não era possível. Passou valsa, passou cerimônia e chegou a hora da pista. Alvinho, já no brilho do álcool, fez o favor de falar pra Graça que MaGá tava gostando dela.
- Que bonitinho – comentou Graça.
Então no meio da pista, os dois já dançando, Graça foi perguntar se era verdade.
- É verdade que você gosta de mim? Por isso que você tem agido meio estranho?
- Quê?! – perguntou MaGá se fazendo de maluco.
Não acreditava no que tava ouvindo, “Como assim? E agora?”. Nessa MaGá de não saber como agir, e não saber o que dizer, ele começa dançar igual louco, era aquelas musicas dos anos 80. Em uma tentativa de virada... Como naqueles episódios de Batman antigo... “POW!”, MaGá deu uma bela cotovelada em Graça. MaGá ficou muito sem graça, de imediato segurou nos ombros dela e perguntou se tava tudo bem. Claro que não, mas, imaginou que seria educado perguntar. Ela de cabeça baixa e com a mão no rosto responde, balançando a cabeça, que sim e sai pra sentar num banco próximo. MaGá atordoado só repara uma tiazinha já bêbada ao seu lado comentando.
- Aí, meu garoto! Pegou a loirinha. – comentou com um sinal de jóia.
“Quem dera... Que merda!” MaGá em vez de pegar, deu-lhe uma pela porrada na cara. Ele não acreditava, depois de paralisado foi até ela em um canto com uma das primas e Alvinho.
- Graça, me desculpa... De novo eu sei, mas foi sem querer, você ta bem? Sei que não, mas... E aí? Deixa eu ver – perguntou MaGá todo enrolado.
Quando ele levanta o rosto dela, MaGá não acredita. Na verdade nem deu tempo, nem de comentar.
- Graça, você está san... – falou grogue e caiu.
MaGá cai no meio do salão, desmaiou. Graça tava com o nariz ensangüentado. MaGá só acorda no hospital. Quando abre os olhos só observa Alvinho rindo com Manolo.
- Cara, você tem certeza que gostou dela? Sério mesmo? – perguntou rindo Alvinho.
- Como assim cara? Quê que foi? – falou meio zonzo.
- Maluco, nunca vi alguém se esforçar tanto pra dispensar uma menina. Na boa, tu se esforçou. HAHAHA... Se tiver alguém que eu não goste vou apresentar você pra sair. – Disse Manolo, rindo demais.
- Cadê ela? – perguntou MaGá.
- Foi embora. Acho que ela achou o Rio perigoso demais. HUAHUAHUA... – respondeu Alvinho rindo muito, junto com Manolo.
MaGá nunca mais viu Graça, as vezes fala com ela pela internet. Sempre pedindo desculpas pelo final de semana no Rio. Sorte da cidade que não foi a única experiência dela por aqui. Já veio depois, mas por sorte dela, MaGá estava na faculdade.

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