Estamos em São Gonçalo. Terra de tantos Brabos. De personagens como, Seu Jorge da Ponte Engarrafada até Claudinha Leite do Axé. Essa última por sorte foi embora cedo de SG e foi criada em Salvador. E também terra de ninguém mais, ninguém menos que, o enigmático e folclórico, Agostinho Carrara. Nessa terra de gigantes de ser mole, passam o trator!
Alcântara. Terra de negócios. Da China ao Paraguai. Ali se encontram trabalhadores e batalhadores. E também Fernandinha, A Muambeira de Alcântara.
Era sexta-feira. MaGá e a turma resolveram procurar um lugar novo pra uma saideira. O lugar escolhido foi a Vibe Show em São Gonçalo. Morava lá um primo do Manolo, Chico. Já na fila da casa de show se verifica a grande quantidade e, variedade de mulheres que existe em São Gonçalo. Ali, do lado de fora, uma chamou atenção mais que as outras. Pelo menos pra Rafa e Zéh.
Era Fernandinha. Ela tinha atributos que agradavam a cada um deles. Tinha uma bela bunda, o que é preferencia do Rafa. Além de estar vestida como uma típica piriguete, preferencia do Zéh. Fernandinha era uma moreninha de corpo dourado de mais ou menos um metro e sessenta, corpinho gostosura, pelinhos dourados pela água oxigenada, e piercingzinho no umbigo e na língua. Estava vestindo um daqueles calças jeans toda apertada, de levantar o burrão pro alto. As famosas Calças da Gang. Um top tomara que caia mostrando o piercing do umbigo e uma tattoo no ombro esquerdo. Usava umas pulseiras grandes e douradas no pulso esquerdo e um relógio grande, do tipo faustão, dourado no pulso direito.
Fernandinha tava lá na fila com suas amigas, parada com seu rádio modelo Ferrari, colado ao rosto e cheia de charme. Não dava ideia a nenhum homem. Todos os caras passavam por ela encarando. Tudo igual cachorro de rua esperando o pedacinho de carne da mole pra abocanhar. Mas com Fernandinha tem que negociar. Trabalha em Alcântara desde novinha, sabe valorizar seu produto.
Manolo nem curtira tanto Fernandinha, mas como viu que Rafa e Zéh estavam como cachorrinhos admirando ela, resolveu brincar com a situação e tentar, mesmo não querendo algo com ela. Foi à moda gonçalense.
- A princesa ta uma delícia hoje hein... De largar a família! – disse próximo a ela, como se não tivesse falando com ela.
Fernandinha apenas virou o rosto e continuou falando no seu rádio. A galera riu e todos foram entrando. Lá dentro Fernandinha era só chão – chão – chão... Rafa tentou e nada, Zéh tentou e nada. Outros tentaram e era só toco atrás de tocos. Até que no final da noite, por obra do acaso, ela escolheu MaGá como se escolhesse uma mercadoria. MaGá nem se interessou tanto, mas como todo mundo tava pagando pau pra menina, não tinha como dizer não. Pegou. Melhor, ela pegou ele. Depois de alguns minutos se beijando, os dois se falam pela primeira vez.
- E aí Nem!? – disse Fernandinha mascando o chiclete.
Depois que ouviu isso MaGá se arrepiou todo, sentiu um tremendo frio na espinha. “Putz!”. Ele não curtia muito essas Mulheres-Nem. Era mais o tipo do Zéh.
- Hehe. E aí, tudo bem? Meu nome é MaGá. – disse ele, meio constrangido.
- Até que tu é gostosinho, melhor do que a encomenda. Me passa teu número que eu já tenho que ir bebê.
Eles então trocaram os números. MaGá não pensava muito em utilizar, de repente passaria pro Zéh já que é mais o tipo dele. Depois de trocarem os números, se despediram. Ela tasco maior beijão em MaGá.
- Tchau Nem! ...
“Ai!” Outro arrepio na espinha de MaGá.
-... A gente marca uma parada depois. – deu outro beijão.
De tabela deixou seu chiclete na boca de MaGá de brinde. MaGá não acreditou, cuspiu o chiclete no chão.
“Que ser é esse meu Deus?!”
A turma foi zoar e brindar a vitória de MaGá. Isso do ponto de vista deles, pegou a mulher que todos queriam. Pra MaGá aquilo era a personificação do pecado. Passou uma semana e MaGá nem lembrava do numero de Fernandinha. Até que seu celular vibra.
[Mensagem de Fernandinha SG]
- Eaí Nem, cmo vai essa força? Agnt podia se esbarra por ai ne. Me resp e apareci. Bjxx!
“Putz!” Outro arrepio na espinha!
MaGá não querendo, mas tentando ser educado – era um rapaz ingênuo, não sabia dizer não – responde Fernandinha. Ela por vez faz um ultimato pra ele.
[Mensagem de Fernandinha SG]
- Nem, o negocio e u seguinte. Me encontra sabado em alcantara. Qnd tiver xegando me avisa que te busco na parada. Sabado eh o melhor dia pra mim. Bjxx. T esperando!
“Alcânnnnnnnnnnnntara?! Nããão!!!”
MaGá já passou por Alcântara com Alvinho, foram do RJ até lá pra experimentar um terno de padrinho pro casamento do primo dele. Para MaGá, Alcântara era o inferno sobre a terra. Algo próximo do deserto do Saara e a Faixa de Gaza. Mas como já tinha marcado de ir com Alvinho de pegar o terno, foi pra batalha. Alvinho insistiu.
- Que isso cara, vai lá vê a Nem. Vai que ela é dona de uma loja dessas que vende salgado + guaraná por 2 reais. De repente até um prato feito. Já conseguiríamos um almoço! – diz Alvinho sacaneando MaGá.
Chegando lá se viu no meio ao caos. Terrível. Uma das coisas que mais incomodava ele em Alcântara era o cheio de churrasquinho com diesel. Além de parecer um campo minado. Cada mina era alguém. Ou oferecendo chip de telefone, ou serviço odontológico, ou berrando por natureza. Era o seu pior pesadelo!
- E aí minhas cliente, o “F.Bi.Ai” fechou o “MEGAUPiLODi” mas eu to aberto. Tem de tudo, Filme, série, música, o melhor preço da cidade né não DJ... “Minha vó ta maluca! Minha vó ta maluca! Tanta coisa pra comprar e ela comprou uma peruca!”... Aqui não tem peruca mais tem 3 filmes por 10... A concorrência ta maluca! – berrava o vendedor.
- Chip da TIM! VIVO! CLARO! OI! – berrava uma mulher, dessa vez a evolução do caos, tinha um alto-falante.
Até que Fernandinha aprece do nada no ponto lhe pegando e amassando todo em beijos.
- Demoro hein Nem!
“Ai!” Outro frio na espinha de MaGá!
Assim eles se cumprimentaram, MaGá, muito sem graça. Mas com uma coisa fico impressionando. Fernandinha conhecia todo mundo pela rua. Do louco que vendia os DVDs piratas até o cara que comprava ouro.
- E aí Cesão! Não pode parar, vamos vender esses filme que dinheiro não pede pra entrar. – disse ao maluco dos DVDs.
Até que com o cara dos empréstimos...
- Titio Tadeu, qualquer coisa é só chamar!
“Tio?!”
- Você conhece todo mundo aqui? – perguntou MaGá.
- Ah, Alcântara faz parte dos negócios da família Nem – MaGá não se acostumava a isso. Meu pai toma conta de tudo por aqui, mas foca na vans né, tem tretas com a polícia. Meu tio toma conta dos empréstimos e minha mãe que coordenas as meninas na rua. As que vendem chip e que dão os panfletos.
MaGá ficou espantado, estava com a herdeira do Império das Muambas de Alcântara.
- E você trabalha aqui também? – perguntou MaGá.
- Eu ajudo meu pai na coordenação, viajo pra Foz do Iguaçu pra ver as mercadoria que vem dos primo e viajo pra sampa, ver as mercadoria dos chinas. E tomo conta das lojas de aluguel de roupas. Essa é a parte que eu chefio nas redondezas. Aqui o bagulho é doido Nem. Aqui o movimento é frenético todos os dias. – disse ela mascando seu chiclete.
Até que aparece o pai de Fernandinha. Era Tonhão do Apolo. Um sujeito de se assustar. Morava nos prédios de Alcântara, na verdade, donos deles. Nasceu no Maria Paula, mas lá esfaqueou os dois candangos que o cornearam com suas esposas. Coincidentemente Maria e Paula. Depois de disso fugiu pro Apolo III e lá fez seus contatos. Com certeza MaGá não queria se esbarrar com ele, mas viva ao acaso.
- Quem é tu?! Ta paquerando minha Nandinha? Vem cá mais perto. – disse ele puxando MaGá suavemente pelo pescoço.
- Oh paizinho, só não vai intimidar o Nem. – diz ela fazendo uma bola de chiclete e estourando em seguida.
“Que isso, intimidar? Só o nome já traz tranquilidade!”
- Olha aqui franzino! Tu abre seu olho, te boto pra andar de Alcântara até Neves de joelho. Opinião de amigo?! Vai cavuca barro em outro bairro. Se comentar algo da nossa conversinha com minha filha... – disse dando um tapinha nas costas.
“Por mim eu não passava da Trindade... Nem Deus Pai, Deus Filho e o Espirito Santo tem coragem de ser de Alcântara!”
- O senhor tem toda razão. Só to esperando um amigo e já to metendo o pé!
“Jesus, o que eu to fazendo aqui?!”
- Que bom, vou levar mina filhota pra tomar conta de uns negócios... É a sua deixa franzino!
- Hum rum! – resmungou engolindo seco.
Só restou a MaGá a se despedir e ir ao encontro de Alvinho, e meter o pé mais rápido possível de Alcântara. Mas era MaGá, e com ele nada é simples. Depois de saber em qual loja de aluguel de roupa Alvinho estava, MaGá foi ao seu encontro. Chegando lá, tinha um maior falatório. MaGá entrou de mansinho procurando Alvinho, mas foi surpreendido por quem fazia parte do falatório. Não era Alvinho, era Fernandinha dos Ternos. Como ela era conhecida nas lojas de Alcântara.
- E aí Nem, fazendo o que aqui? Da um beijinho! – chegou agarrando MaGá pelos dois braços e o beijando.
Alvinho só ria de canto de boca. MaGá ficou paralisado. Além de ser pego de supetão, era Fernandinha que berrava dentro da loja. Mas eram negócios. Um sujeito de Guaxindiba queria alugar um terno, mas o rapaz queria dar de garantia uma galinha da angola.
- Tu acredita nisso Nem?! Na época do meu avô isso até ia, hoje dia pago a policia com o quê? Ovos de ouro? Oh meu senhor, to nem aí se tu conhecia meu avó. Agora é em cash! – falava alto Fernandinha, gesticulando com as mãos.
- É acho que se tem razão. – falava ele cutucando Alvinho pra salvar ele.
- Com certeza você tem toda razão. Mas temos que ir logo né MaGá, tem os preparativos das despedidas de solteiro ainda... Um dinheirão, só um desconto da sua Nem pra melhorar as coisas. – disse ele com um sorriso sacana.
MaGá ficou revoltado, se o Tonhão descobrisse que ele ainda tava dando prejuízo... Não queria nem pensar. Fernandinha, amorosa que tava, arrumou o desconto. Mas fez questão que o MaGá viesse devolver. Saindo da loja, MaGá era só alivio. Alvinho era só risos e gargalhadas.
- Como você foi arranjar um ser EXÓTICO como esse? Hahahah. – disse Alvinho, rindo muito enquanto abria o carro.
Antes de responder só se via uma galinha da angola voando pela janela.
- No dia que essa galinha virar urubu você me procura! – berrava Fernandinha apontando a galinha pro senhor. – Tchau Neeeeem! – berro ela da janela mandando um beijo com a palma da mão.
- Serio Alvinho. Me tira daqui. – respondeu MaGá com uma cara de assustado e entrando no carro.
MaGá nunca mais voltara a Alcântara. Alvinho voltou e teve que se explicar porque MaGá não veio. Como a explicação não foi das melhores, o desconto se fora. Ele tentou argumentar, mas dois gorilas tavam junto com a Fernandinha pra mostrar quem tava certa. A Muambeira de Alcântara tinha gostado de MaGá, tinha até planos pra ele. Iria deixar com ele o comércio de pastel da cidade. Comércio lucrativo, cada esquina de Alcântara tinha uma pastelaria. Azar o dele... Ou sorte né!

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