Estamos em São Gonçalo. Terra de tantos Brabos. De
personagens como, Seu Jorge da Ponte Engarrafada até Edmundo O Animal. E também
terra de ninguém mais, ninguém menos que, o enigmático e folclórico, Agostinho
Carrara. Nessa terra de gigantes de ser mole, passam o trator!
Porto da Pedra. Reduto do Samba de São Gonçalo. Aqui a festa
é feita se a escola não cai pro Grupo de Acesso. Terra de meninas e mulheres,
nascidas pra brilhar. Ou ao menos tentar. Terra também de Darlene, A Piriguete
do Porto da Pedra.
Darlene, isso mesmo. É uma homenagem ao personagem da novela
Celebridade. Se é que isso pode se chamar de homenagem. Sua mãe, Giselda, não conseguira o tão sonhado
sucesso. Também com esse nome, quem iria. Então ela queria que sua filha
tivesse, ao menos, o nome de uma batalhadora da fama, dai Darlene.
Era início de fevereiro. Rio de Janeiro já estava fervendo
carnaval. A turma então resolveu ir a São Gonçalo, lá teria um sambão no Porto
da Pedra. E nesse ano eles não estavam no Grupo de Acesso. Chico tinha chamado
eles, mas ele só leva pra roubada. Em São Gonçalo então, a roubada era
garantida. Chegando em São Gonçalo o samba já tava pegando fogo. A mulherada sambava
toda arrebitada. O pandeirão não parava de balançar, pareciam Globelezas sambando, porém desmerecidas
de algum toque de beleza.
Entre elas estava Darlene. Tava gostosa. Darlene sobressaia no sambão de São Gonçalo. Era o tipo do Zéh, adorava as com caras de danada. Sambava com um salto plataforma balançando a cabeleira nova. Era uma morena de corpo da cor do pecado, cabelo com aplique e um corpo de por inveja a qualquer Panicat. Tinha um piercing no umbigo, e ao lado uma tatto, metade amostra e metade no mistério. Seus pelinhos eram dourados na pura água oxigenada da farmácia ChicFarma da esquina. Sempre que possível dourada encima da laje. Dourados pela força do oxigênio. Zéh pirou, estava enfeitiçado!
- Que isso hein... Por essa aí assino até cheque em branco!
– disse Zéh, cheio de gosto perto do ouvido dela.
Pra quê?! Cheque em branco? Palavra mágica pra Darlene. Cheia de dengo foi sambando e rebolando ao encontro de Zéh. Sambando de costas foi indo ao encontro de Zéh cheia da maldade!
Zéh foi ficando animado, olhou pro lado e não viu ninguém, o que deixou ele puto!
“Porra! Nessas horas não tem ninguém por perto pra contar vantagem! Bando de merdas!”
Quando chegou perto de Zéh, Darlene chegou arrebentando no samba. Parecia uma britadeira de rua, sua saiazinha pulava sobre seu lombo que fazia Zéh pirar o cabeção.
“Cadê vocês seus FD#s!? Que mulata gostosa!”
Darlene chegou perto do ouvidinho de Zéh, e toda saliente soltou o verbo meloso.
- A delicia gosta de um chocolate?!
“Safaaaaada!!”
- Adoro me lambuzar no chocolate! – respondeu Zéh com sotaque de putão.
Zéh resolveu pedir um minutinho pra ir em um lugar e perguntou se ela se importava, disse que até trazia uma cerveja pra ela. Coisa que Darlene aceitou arriscar. Coisa que sua Mãe repudiaria, não se pode dar um mole desse e ter a chance de perder um peixão. Zéh voltaria, certo, certeiro. Na verdade ele queria porque queria a chance de encontrar algum dos amigos e que eles confirmassem sua história, que segundo ele pegaria a mulata mais gostosa de São Gonçalo. Um paradoxo dos mais enigmáticos. Porém em vão, não achou ninguém.
“F#D-$%!”
Como tinha prometido comprar uma cerveja pra sua Dama Negra, foi até o bar. Única opção, Itaipava. É, fazer o que, tava em São Gonçalo. Voltou e saiu a procura da sua mulata gostosa. Não demorou e avistou a sua Ferrari vermelha com toque de chocolate. Chegou por traz dela e ofereceu a Itaipava que tinha comprado. Gentilmente Darlene aceitou.
- Desculpa a indelicadeza, mas qual é o nome dessa princesa de ébano? – perguntou Zéh.
Ébano?! Darlene não sabe se isso é bom ou ruim, mas resolve se fazer de indiferente e aceitar o possível elogio.
- Que fofo! Prazer, meu nome é Darlene. – respondeu o nome com todo flexibilidade possível na língua.
Ficaram alguns minutos conversando com Zéh vidrado no seu corpo. Darlene de modo inacreditável - porém fruto de muito treino da sua mãe - conversava sambando, sambando de leve. Ela não parava quieta, tinha um gingado sutil que de alguma forma estava enfeitiçando Zéh. Tudo não passava de uma tática de sedução que era passada de geração em geração na sua família, um modo de fisgar os homens com o mínimo de conversa possível. Zéh não tirava os olhos de sua cintura remexendo. Até que do nada Zéh agarra Darlene e tasca um beijo nela.
Zéh já estava algum tempo beijando Darlene, não conseguia parar, desgrudar. Tempo esse suficiente pra MaGá e Manolo passarem próximo a eles e avistarem tal cena. Eles se espantaram, não acreditavam na cena. MaGá chegou a esfregar os olhos pra ter certeza. Os dois ficaram uns dois minutos observando sem conseguir dizer nada. E nada dos dois se desgrudar.
- C4r@7h*! O Zéh ta louco? Vai largar essa mulher não? Manolo, a gente tem que fazer alguma coisa! – disse MaGá.
- Hahahah ele é um FDP! É maluco, deixa ele! – respondeu Manolo rindo muito.
MaGá sem pensar duas vezes foi até Zéh, e disfarçadamente um cutucou 3 vezes, mas em vão. Olhou pra Manolo então e gesticulou com as mãos perguntando o que fazer. Manolo babaca que só, só ria, não tava nem aí. MaGá então, pensando em papel de bom amigo, cutucou de novo e dessa vez com mais força. Até que ele se desgrudou.
- Fala MaGá, beleza?! Essa maravilha – disse apontando pra Darlene enquanto ela remexia levemente – é Darlene, deliciosa como um Diamante Negro. – disse Zéh com os olhos fixados na cintura dela, que não perdia o rebolado.
- Opa! – acenou MaGá pra ela, puxando em seguida Zéh pelo braço.
- Porra Zéh, ta maluco?! Ta doidão?! Joga essa porra de Itaipava fora, deve ta te fazendo mal. – disse jogando a latinha no chão.
- Que foi cara, olha aquilo ali, olha aquele remelexo. Que loucura! – disse vendo ela sambar.
- Tá maluco!? Ela é feia, gorda e banguela! – respondeu agarrando a cabeça de Zéh.
Zéh deu uma risada meio sem graça e questionou se ele ta bem. MaGá não pensou duas vezes e acenou pro Manolo e chamou ele, por acaso Alvinho apareceu também.
- Fala Manolo, essa mulher que o Zéh ta pegando, gatinha? – perguntou MaGá.
- Que mulher? – perguntou Alvinho pegando o bonde atrasado.
- Hahahahah... Aquela ali – apontou Manolo pra Alvinho – Delícia! – respondeu Manolo rindo.
- Ta zoando?! Zéh, você ta maluco? Vamos embora daqui, vamos levar ele. – disse Alvinho.
Zéh se revolta com a turma decidindo o que ele tem que fazer, pega a latinha de Itaipava que tava no chão e volta a beber. Quando ameaça ir atrás de Darlene, é impedido.
- P#rr4, ta explicado! Quem foi que deu Itaipava pro Zéh?! Ele fica loco, não pode! – disse Alvinho pegando a latinha dele e dando uma garrafinha d’água pra ele beber.
Zéh concordou e mostrou aceitar a idéia de ir embora, mas assim que a turma distraiu, correu rapidinho até Darlene e deu um ultimo beijão nela. Pra desespero dos amigos que nem conseguiram olhar, os três viraram o rosto na hora. Alvinho, como o amigo mais consciente, voltou, pediu desculpas a Darlene e puxou Zéh pelo braço pra irem embora.
Algo estava errado nessa história. A turma ficou espantada, chocada com ele beijando Darlene no meio da quadra do Porto da Pedra daquele jeito. Na verdade Zéh tava mais pra São Jorge do que Galanteador de São Gonçalo.
Apesar de que todo galanteador de São Gonçalo é um guerreiro por natureza.
Zéh estava passando por uma síndrome de “O Amor é Cego”. Não se sabe se por causa da cerveja – Itaipava – que por motivos desconhecidos, não o deixa muito bem. Nem no sentido de barriga, como também de cabeça. Ou se por causa da lenda que cerca algumas mulheres do folclórico bairro do Porto da Pedra. Mulheres essas, que como Darlene, receberam algum tipo de herança mística e poderosa de suas ancestrais, que de alguma forma conseguiam enfeitiçar esses homens que atracavam no Porto. Que reza a lenda local, ser esse o motivo do nome dado ao bairro, Porto da Pedra.
Antes que Zéh caísse no conto do Gonçalo, seus amigos logo o tiraram de lá. O dia seguinte foi de ressaca e de amnésia. Zéh jurava que não se lembrava de mulher nenhuma, quem dirá uma Darlene.
Podia ser verdade ou migué. Mas antes que a turma ficasse na duvida de acreditar ou não no amigo e ficar naquela zoação do dito pelo não dito, Manolo fez questão de tirar o celular do bolso e mostrar seu dom fotográfico. Uma foto do Zéh com os dois braços abertos e esticados envolvendo a sua princesa de ébano, Darlene.
Estava aberta a temporada de zoação ao Zéh. Zéh que durma com um barulho desses.

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