Tudo isso aconteceu no hospital. Tinha que ser né. Manicômio
está para os loucos, assim como hospital está paras os velhos. Certo, MaGá estava
chato. Um momento TPM, menopausa, andropausa, alguma coisa do tipo. Naquele
dia, passou dos 35 pra ele já era velho.
O saguão parecia uma cesta de frutas, mas só que com ameixas
e maracujás.
“Nossa... Que horror!”
Já no térreo os
velhinhos começaram a atacar sua fúria. Um tiozinho apertava sem parar o botão
que chama o elevador.
- Nossa, que elevador lerdo! – reclamava o velho, apertando
repetidamente o botão.
“Oh velhote isso ai
não é campainha não!”
- Tinha que ter um elevador preferencial – dizia uma
velhinha.
“Quer montar em mim e
eu te carrego? Cada uma!”
Beleza! O elevador depois de alguns minutos e muita historia
de dor nas costas chega. Todos vão entrando, porém o elevador só suporta onze
pessoas e um determinado peso. Vai dizer isso para os velhotes.
**Apito chato do elevador**
- Não vai dar não, vai ter que sair alguém. – diz a mocinha
dos controles.
Engraçado, ninguém comenta nada. Os dois últimos a entrarem
se fazem de maluco como se não fossem com eles. Olham pra baixo, pra cima...
Até uma velhinha metida à engraçadinha resolver se manifestar. Aí a confusão tá
formada.
- E aí, o último não vai sair não? – diz a engraçadinha.
- É você. – comenta o quarentão.
- Claro que não! Eu cheguei primeiro que você na fila, você
que furou fila.
- É... Pesado é o peso da consciência! – comenta um velhote
filosófico.
“Ah, vai dar uma de
Bial agora? Era mais vantagem eu ter ido de escada...”.
- Mulheres... – sai resmungando e reclamando o quarentão.
“Mulher é F*d4 mesmo!
Direitos iguais ‘my left egg’, vai de escada. Ah não, aí seria deselegante”.
Depois de todos ajeitados e o quarentão expulso, a mocinha
fecha a porta. Era por volta do meio-dia. Era hora do almoço. Uma velhinha
resolveu reclamar da comida.
- Nossa, viu aquela carne? Estava muito dura e foi um sufoco
pra minha tia comer. E a sobremesa, pera dura também.
- Esqueceu o Corega minha amiga, Hihihi – mas uma vez a
engraçadinha roubando a cena.
- Hehehe... Pior que a dentadura dela caiu na sopa mesmo...
“Velho é sempre
inconveniente! Eu nem comi ainda!! Quero ficar sabendo de dentadura na hora do
almoço!? Pelamor!”
-... Coitada, ficou cheia de vergonha. – concluiu.
“Só se for de tu!
Parece minha mãe fazendo de tudo pra dizer as minhas situações constrangedoras
pros outros... Velho tem dessa mania mesmo, adoram causar vergonha alheia.”
No terceiro andar entra um marinheirozinho. Um oficial que
estava no elevador pede pra ele levar um documento no 11º. O jovem rir sem
graça, não quer, mas o outro é superior né. Nessas horas ficamos quietos e
obedecemos, não queremos é problema. Porém os velhotes sempre conseguem um
jeito de nos deixar sem graça. Normalmente são os avós, mas velho é velho,
sendo da família ou não, parece que quando passa dos 50 o objetivo é esse.
- Acho que ele não gostou muito não, – hihihi – olha a cara
de quem não quer levar... – meteu o bedelho a engraçadinha.
“Velha chata, não cala
a boca! Vou da um saquinho de vírgulas pra ela.”
- É meu jovem... Manda quem pode, obedece quem tem juízo! Já
passei muito por isso hahaha... – filósofa o velhote, querendo dar uma de
engraçadinho também.
O jovem fica todo sem graça...
- Tem algum problema oficial?!! – pergunta o superior, fazendo
pose de tal.
- Não senhor, claro que não. Estou indo para aquela direção,
Senhor.
Sai o oficial no 4º andar. O marinheirinho fica só na careta
pra com a velhinha engraçadinha. Seus olhos diziam:
- Se eu te pego... Te mato! Velha!!!
MaGá sentiu aquela vergonha alheia. Em seguida entra mais 2
senhoras. O assunto era o problema da mãe de uma.
- Minha mãe ta com arritmia...
“Se tua mãe não
tivesse nada, e estivesse internada aqui, te levava pra psiquiatria!”
-... O médico
falou que o normal de batimento é por volta de 60, 70, por aí. Tem horas que
ela chega a 200. Mas segundo ele vai ficar tudo bem. – comenta aliviada.
“200 batidas? Tá mais
rápido que o fusca do meu tio.”
Outra senhora entra no meio da conversa. Velho adora fazer
isso, abriu uma brecha, tão loucos pra bater um papo... No ônibus, fila de
banco, banco da praça...
- A vida é engraçada né...
“Ih! Vai filosofar!
Velho se acha Gandhi, Oráculo... Nunca vi gostar de passar experiência”
- A sua esta com problema porque o coração esta batendo
rápido de mais, o problema da minha já é porque não tá batendo direito. Veias
estão entupidas...
“Isso é problema de
boca maldita! Adora comer besteira, nessa idade ainda então...”
- Minha mãe também, só quer saber de comer gordura, glace de
bolo... Velha maluca mesmo né! – disse a velha intrusa.
“Ih! A suja falando da
mal lavada... Olha a cara de quem já ta usando dentadura, não dou 2 meses pra
começar a reclamar da coluna!”
- Se bem que eu deveria estar aproveitando o hospital e ir
no médico, essas costas já estão me matando... – completou a velha intrusa.
“Não deu nem 2 minutos!”
- O nove ta marcado? – pergunta MaGá a mocinha dos
controles.
- Sim.
- O jovenzinho ta com pressa? Olha que é muito novo pra ter
pressa das coisas hein... Hehe – comentou a Velha engraçadinha, dando uma de
intrusa.
MaGá responde com um sorriso falso e irônico. Chega o nono
andar, pra felicidade de MaGá. Quando sai ele já da de cara com um
engarrafamento de cadeiras de rodas. Tinha dois tiozinhos, meio que disputando
território. MaGá ameaçava ir pro lado, um deles ia. Ia para o outro, o outro
tiozinho chegava junto. Chegando no limite do nervosismo, na beira da fobia...
Os dois entram em outro corredor. Num suspiro de alivio MaGá chega ao quarto de
sua avó. Ela também estava com arritmia, mas tava mais pra velocidade de um
FIAT 147 do que um terremoto no Chile.
- Oi Vó, tudo bem com você? Minha mãe já ta chegando.
- Tudo meu filho, e você? Pega minha bolsa ali, por favor. –
apontou e MaGá foi busca-la.
- To bem, ta uma calorzão lá fora, mas aqui dentro tá
frescão! Vó tem umas senhoras aqui...
- Aqui meu filho – entregou 50 reais na mão de MaGá – pra
você ir comer alguma coisa. Mas o que você tava falando?
- Eu? É...
Chega a Mãe de MaGá.
- E aí Mãe, como você ta, melhorou?
- To bem filha, ta melhor.
- É, bem... vou indo ali na lanchonete... Beijão vó, te AMO! - disse MaGá com um maior sorriso no rosto.
E saiu MaGá feliz da vida. Do lado de fora viu vários
velhinhos dóceis e bonitinhos. Quando chegou no elevador pensou duas vezes...
“É melhor ir de
escada...”

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