# Pesquisar este blog

sábado, 7 de janeiro de 2012

Pai de Peixinho, Peixe é!

MaGá sempre ouviu sobre as semelhanças que tem com seu pai. Se eles são parecidos fisicamente, pode até ser. Se essas coisas que só acontecem com MaGá também acontecem com seu pai, pode até não ser. Só com o MaGá mesmo. Mas que seu pai ajuda MaGá a passar por cada coisa, isso é verdade.

Uma vez quando pequeno MaGá jogava bola na rua, era o café com leite do grupo, qualquer coisa era com ele. Cai na casa do vizinho chato, MaGá vai lá pedir a bola. Tem que ir comprar o cerol, vai MaGá. Comprar a coca-cola na esquina pra aposta do futebol, vai MaGá.

Um dia MaGá tava jogando uma bola na rua com os mais velhos. Beleza, se amarrava. Se sentia mais velho e tudo, mas quando era pra pegar a bola na casa do vizinho... Aí ele sabia que não passava de um “café com leite”. Nesse dia a bola caiu em uma casa que estava em obra, nem tinha moradores ainda. MaGá tentou se fazer de maluco, olhou pro lado, pro outro, disse que ia beber uma água, mas que nada.

- MaGá, vai lá pega a bola. Lateral, a bola é de vocês.

- Eu!?

- Ta com medinho? Vai logo lá, nem tem ninguém na casa.

Vai então MaGá procurar a bola. Ela caiu num buraco que parecia um caminho onde seria colocada tubulação da casa, algo do tipo. MaGá então entra no buraco, vai seguindo cuidadosamente o caminho. Tava descalço, então tomava cuidado pra não cortar o pé ou coisa do tipo. Depois que avistou a bola ficou mais tranqüilo, mas foi sempre observando se não tinha nada pra se cortar ou um bicho qualquer. No que ia andando ele observou um potinho de Yakult quebrado, achou estranho porque a casa tava em obra e tava enterrado. Ele viajou na verdade. Quando chegou na bola, se sentiu com a missão cumprida. Se chegou até ali e nada deu errado a volta também não seria, voltava pelo mesmo caminho. Que nada!

O negocio de Yakult na verdade era um cano PVC quebrado e com a ponta virada na direção da bola. MaGá quando foi pensou que era Yakult e ainda desviou. Na volta, sem prestar atenção, coitado, o cano de PVC quebrado saiu rasgando sua perna igual faca. MaGá na hora sentiu sua perna arder e não entendeu nada, pensou que tinha esbarrado na terra. Quando olhou, só viu a perna ensangüentando. O corte era enorme, tava parecendo uma tcheca de Chico! O idiota, em vez de se desesperar e pedir ajuda quis bancar o durão, não agüentava mais o rotulo de “café com leite”, se sentia fraco. Preferiu ficar calado. Na saída da casa apenas jogou a bola pro pessoal e foi pra casa dele.

- Que foi MaGá, viu um monstro na casa? Hahaha – brincou um dos amigos.

Tinha visita na casa dos seus pais nesse dia e eles estavam do lado de fora, na calçada conversando. MaGá tava com vergonha de aparecer chorando, então foi dando a volta pelo carro, escondido, mancando e com a mão na perna pra tentar parar o sangue. Quando consegue passar pelo portão da casa, ele resolve parar num banquinho de cimento que tinha logo ali perto. Tava doendo pra cacete e ele não tava mais agüentando andar. Passa sua mãe, fala com ele, e ele age como se nada tivesse acontecido.

- Tudo bem MaGá? Quer um suco também?

- Hmn Hum... – responde MaGá, trincando os dentes com um sorriso falso e balançando a cabeça.

Quando sua mãe está voltando pra casa pra levar os copos ela ver umas gotas e manchas vermelhas no chão.

- Mas o que é isso? Sangue? MaGá, que isso aí na sua perna? – pergunta curiosa a Mãe.

- Nada não. – responde tirando a mão devagarzinho da perna.

- SAAAANGUE! Você ta maluco, por que não falou nada? Cadê seu Pai? – berra a Mãe de MaGá, pra toda vizinhança ouvir.

“Maravilha, to a meia-hora aqui sofrendo calado pra não parecer um idiota e agora o mundo todo sabe”.

- Que foi? – aparece o pai de MaGá correndo querendo saber o que estava acontecendo.

- Teu filho aqui, ta com uma cratera na perna e você não viu?

- Mas ele tava ali jogando bola, tava tudo tranqüilo. Como você fez isso? – perguntou à MaGá o Pai.

- Isso importa mesmo agora? Briga comigo depois. – responde MaGá, já com os olhos arregalados de dor.

O Pai então resolve dar uma de MacGyver das emergências.

- Pega lá em casa pó de café. – pede o pai na correria.

- O quê?! Pó de café? Ta de sacanagem comigo. O que tu vai fazer? – fala MaGá desesperado.

- Pó de café estanca o sangue.

A Mãe então traz o pó de café e da na mão do Pai. Antes de tacar na perna, MaGá não agüenta.

- Para, por favor, não taca isso em mim não. Vai doer, me leva pro médico. Por favor, para! – fala MaGá chorando.

MaGá abre o berreiro, não tava mais pensando em nada. Tava achando que iriam tacar café na perna dele, a palavra “pó” saiu da sua cabeça. Só chorava e pedia pra não tacarem café nele. O Pai enquanto tentava acalmar MaGá, igual quando se tira esparadrapo de machucado de criança, taco do nada o pó na perna do menino. Pra surpresa de MaGá não doeu nada e o sangue realmente parou de vazar.

“Caraca, meu pai é brabo!”

Assim que parou de sangrar o Pai de MaGá colocou ele no carro e levou até o hospital mais próximo. O café no machucado não doeu, mas aquela merda tava doendo pra cacete. Chegando no hospital levaram MaGá pra costurar, ele deveria levar uns 10 pontos na perna. Um enfermeiro levou ele pra uma salinha, deixou a perna com um pano pra não ficar exposta e deixou ele na maca, até o médico chegar. Quando o médico chegou.

- O que aconteceu aqui com o garotão? – pergunta o Médico.

Para os médicos parece que nada ta acontecendo, eles levam tudo numa boa. Não é com eles mesmos. “Garotão? Tu ta feliz?! To com um rio de sangue na perna  idiota!”. Quando o médico levanta o pano...

- Mas o que aconteceu aqui? Café?- perguntou o médico, ainda como se nada tivesse acontecido.

- Fui eu doutor, pra poder estancar o sangue. – respondeu o Pai de MaGá, se sentindo.

- Desculpa Pai, mas você fez merda. – falou o Médico, ainda sereno.

“O QUE!?”


- Mas doutor, o sangue estancou e minha Mãe já fez isso comigo, sem problemas nenhum. – tentou argumentar o Pai.

- Estancar o sangue estanca, mas o pó secou com o sangue na perna. Agora tem que raspar isso.

- O quê doutor? Raspar como? – pergunta MaGá desesperado olhando pro doutor e depois olhando, com olhos de matar, pro Pai.

- Com espátula, vai doer só um pouquinho.

E na primeira raspada, MaGá pirou de dor. A vontade era de matar o pai, mas não durou muito tempo. A criança desmaiou de dor. Muito fraquinho. No dia seguinte o Pai perguntou como ele tava. MaGá já estava mais tranqüilo, mas como teve que ficar por quase um mês com a perna enfaixada do pé à coxa, não podia fazer praticamente nada. Escola só depois de uma semana. Para as crianças, e isso MaGá na época, só importam as vantagens. O que aconteceu já era passado. Teve vida de rei por um mês. O único trauma dessa trapalhada de MaGá, é ter que explicar aos curiosos a historia da cicatriz na perna.



Nenhum comentário:

Postar um comentário