Comum em qualquer infância de rua, quando não se tem bola - porque
caiu na casa do vizinho ou furou - se arranja outra coisa pra fazer. E em um
desses sábados qualquer, onde faltava algo, MaGá teve uma idéia junto com seus
amigos, Pinta, Rod, Gá e Pê.
- Bora brincar de olimpíadas! – sugere MaGá levantando do
meio-fio.
- Mas como, com o quê? – pergunta Pê.
- Ué, são vários jogos. Só a gente pensar em como e quais jogos dá
pra fazer.
- Tem que ter a corrida. – diz o Gá.
- O de pular. – sugere Rod.
- Amarelinha? – sugere Pê com um pouco de duvida.
- Claro que não, onde já se viu amarelinha um jogo. – retruca
Pinta debochando de Pê.
- Ah, deixa ela Pinta, deixa de ser chato. É bom que tem mais
coisa pra fazer. – tentou ajudar Rod.
Depois de muito se discutir, ficou decidido que os esportes –
brincadeiras – seriam; corrida, corrida de revezamento, corrida com barreiras, salto
triplo, salto em distância, lançamento de dardo, lançamento de peso, e,
amarelinha.
- E qual vai ser o prêmio? – perguntou Pê.
- É mesmo, não tem medalhas. – concordou Pinta.
- Hum... Comprei um saco de big-big ontem. Pode ser isso, bala né.
– sugeriu Gá.
- Vamos fazer então. 5 big-bigs, igual ouro. 3 igual prata. Um
big-big bronze. – sugeriu MaGá recebendo apoio de todos.
Depois de escolhida às modalidades e a premiação, tava na hora de
procurar os “instrumentos” para as olimpíadas. A turma saiu pela vizinhança e
bairro atrás de coisas que poderiam ajudar. No fundo do mercadinho a turminha
achou duas caixas de madeira.
- Aqui, isso pode ser pra gente pular na corrida. – sugeriu Rod.
- E o pódio. – acrescentou Pê.
A turma gostou, pegou e saiu correndo.
- Ei, volta aqui! Me devolve essa caixa! – gritou um funcionário
do mercado.
Ali perto, em uma esquina, perto de uma lanchonete eles acharam um
coco que Pinta teve como idéia usar pro lançamento de peso.
- Aí, dá pra usar pra tacar longe. – disse Pinta, aprovado e pego
pelo grupo.
Depois de rodar a vizinhança, a turma volta carregando várias
bugigangas pra curiosidade das vizinhas de janela.
- Que isso crianças, pra que tanta tralha? – perguntou uma das
vizinhas.
- É para as olimpíadas tia Marizete. – respondeu a dócil Pê.
Sem muito organizar, começaram os jogos. A primeira brincadeira
foi a corrida, aproveitando o fôlego do pessoal. A Pê por ser café com leite ficou de juiz. Quem ganhou essa e levou os 5 big-bigs e subiu no caixote foi Rod.
Pinta em segundo e MaGá em terceiro. Pra descansar um pouco as outras corridas
ficaram pra mais tarde e a próxima brincadeira ficou sendo o lançamento de coco,
melhor, peso.
A primeira foi a Pê. Coitadinha, nem tinha força pra levantar o
coco e na hora de lançar, quase a certa o pé dela. Mas acerto o de MaGá pra
muita revolta dele, o que arrancou risadas dos outros.
- Kkkkk... BOA Pê, continua assim! – extravasou Pinta pra fúria de
MaGá.
Vida que se segue, MaGá com um pouco de dor não foi bem. Quem
levou os 5 big-bigs e subiu no caixote foi o Pinta, com Rod em segundo e Gá em
terceiro. A próxima seria então o lançamento de dardo, que na verdade seria o
lançamento de galho – um ganho que o Gá achou na calçada da vizinha.
A Pê mais uma vez não foi muito bem, mas pelo menos dessa vez não
acertou ninguém. A turma ficou tudo atrás. Porém não pode-se dizer o mesmo de
MaGá, ele não acertou ninguém, mas acabou acertando a casa do vizinho, pra
desespero da turma que saiu correndo e se escondendo na casa do Rod. Por falta
de equipamento adequado – entenda-se ‘galho’ – essa prova foi suspensa. Passado
algum tempo voltaram pra rua e foram pra prova de revezamento.
Pê como não ia da conta de correr com os meninos ficou de juíza na
linha de chegada. As duplas ficaram, Rod e Gá, Pinta e MaGá. Pra ser o bastão,
o escolhido foi o chinelo. Rod começou a corrida contra o Pinta e mais rápido
que ele, conseguiu passar logo o chinelo pro Gá. No desespero de estar atrás
Pinta e MaGá erraram a passada. Pra desespero de Pinta que mesmo atrasado pegou
no pé de MaGá.
- Droga! Você é muito lerdo, nem sabe pegar o chinelo direito. –
reclamou Pinta.
MaGá sabendo como o outro era do tipo exagerado e nervozinho,
preferiu ficar quieto. Segue-se com as brincadeiras. A próxima seria a corrida
com barreiras, mas só depois reparam que só tinham duas caixas e então não
daria pra todo mundo brincar. Como ninguém queria ficar de fora e como ninguém
tinha relógio pra marcar tempo resolveram cancelar. Ainda faltavam os saltos.
Dos saltos, o primeiro foi o salto em distância. Nele Pê foi a
primeira, mas só pra poder se sentir enturmada, porque só conseguiu dar um
passo. Rod foi muito bem, assim como Gá. Mas quem ganhou e conseguiu com uma
cara de sarcasmo calar a boca de alguém foi MaGá, que assim que pulou mais que
Pinta só deu uma olhadinha pra ele e um sorriso de leve. Assim como no salto em
distância, no salto triplo quem levou os 5 big-bigs e subiu no caixote foi o
MaGá, seguido por Rod e Gá. Pinta só não ficou em último por que a Pê já no
segundo pulo estava sem força. Por último ficou a, amarelinha. Os meninos
queriam que não tivessem e achavam ridículo, mas como já tinham combinado com a
Pê e ainda tinha big-big pra se ganhar, por que não? Combinaram que não
poderiam errar a pedrinha mais que duas vezes, se não iam ficar lá o dia todo.
Os meninos já estavam meio cansados e sem saco pra brincar, mas...
Pinta, um pouco mais bruto e sem jeito, não acertou nenhuma das
tentativas. Desanimou e foi sentar.
MaGá foi o próximo e quase conseguiu, até chegou ao céu, mas na
volta com o pé meio baleado pisou na linha. Foi sentar também.
Gá errou apenas uma vez a pedrinha em uma tentativa e no restante
foi direto. Restava secar. Então foi sentar.
Rod conseguiu completar, mas erro a pedrinha uma vez em duas
tentativas da amarelinha. Foi sentar junto com os outros e observar Pê, a única
que faltava. Pra Gá, restava secar também.
Agora, a Pê, a que tanto queria e que ficou de café com leite em quase
toda a brincadeira foi rapidinha. Ligeirinha foi pulando e passando em todas
sem errar nada. Finalizou e levou o ouro, toda feliz. Melhor, levou os 5
big-bigs e subiu no pódio. Melhor, caixote, ao lado de Gá e Rod.
Acabou que todos ganharam,
e até a Pê no finalzinho ficou super feliz. No final das contas todos estavam
cheios de big-bigs, cansados e sujos. Restava agora limpar a pista – rua – e achar
um lugar pra guardar os caixotes, o que ninguém queria. Sobrou pra MaGá, que
mesmo sabendo que sua mãe não ia gostar muito, levou. O que acabou acontecendo.
- O que é isso aí que você ta na mão? – perguntou já a Mãe com
aquele olhar.
Um olhar “qual você ta aprontando agora?”. Porém ele já tinha
aprontado, e muito.
- E que roupa suja é essa, e esse dedo sangrando? – culpa da Pê,
claro – Entra já garoto, vai tomar banho e quem vai lavar esse short é você! –
disse a mãe.
MaGá então largou o caixote enquanto observava a mãe encarando ele
de braço cruzado. Quieto, seguiu pro banheiro olhando pra baixo. Antes de
entrar, pegou a toalha, e bem quieto foi até o cesto de roupa suja e lá tirou o
short e guardou no fundo.
- Toma logo esse banho, já separei o Merthiolate pra esse machucado.
“Ah não, que merda!!!”
Restava agora tomar banho e lavar esse machucado do dedo e alguns
ralados do corpo e o pior, agüentar o sofrimento ardente e angustiante da
pazinha do Merthiolate arrastando no machucado. =’S

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