MaGá e seu pai tem suas semelhanças. Deveria MaGá seguir os passos
do pai, até pelo pai ser mais velho. Porém MaGá tem algo tão forte com suas
trapalhadas, que como um campo de força, consegue atrair as pessoas ao seu
redor para suas inúmeras confusões.
MaGá sempre gostou de TV, desde filmes a desenho. Corria pra casa
pra consegui ver Cavalheiros dos Zodíacos, Pokémon, Chaves e outros. Sua mãe
tinha que mandar ele pra rua brincar pra ele sair da frente da TV. De filmes um
marcou bem MaGá, tão bem que acabou virando mais uma cicatriz. O Máscara. MaGá
já tinha visto o filme umas duas vezes, e até fita ele tinha.
Uma cena ele gostava mais que as outras. Ou nem tanto, apenas
“marcou” mais. Nela o Máscara é cercado por bandidos, todos armados, e é
fuzilado. Quando ele aparenta estar acabado, ele volta lança um sarcástico “Did you miss me?”. Os bandidos não
acreditam, mas logo recarregam suas armas preparando pra fuzilá-lo de novo. É
então que ele saca do bolso duas megas-super-armas turbinadas – se é que se
pode chamar assim. Quando o Máscara engatilha suas armas os bandidos piram e
saem correndo desesperados de cena. É nessa ultima parte da cena que MaGá se
apegou, porém de forma exagerada. Provavelmente devido a tanto desenho que
assistia na TV.
Uma noite na rua junto com seus amiguinhos, MaGá resolveu contar
do filme, e quando chegou nessa ultima cena, MaGá resolveu caprichar na
apresentação. Levantou da calçada, foi pro meio da rua e começou a narração.
MaGá estava sem camisa, de bermuda e um velho chinelo Rider.
- Aí, essa parte é muita engraçada. Os bandidos vão e pá-pá-pá-Pá
no Máscara. – diz MaGá gesticulando como com uma metralhadora na mão. – O
Máscara vai e pula pra trás do balcão. – continua narrando MaGá com empolgação
e toque teatral, arrancando risadas.
- E o que acontece? – pergunta um de seus amigos.
- Ele volta, toma um suco e começa a vazar tudo pelos buracos no
corpo, txiii – som do suco saindo do
corpo – aí ele vai e pergunta se o pessoal sentiu falta e depois diz um ‘acho
que não’. Aí os bandidos começam a recarregar a arma e nessa hora ele vai, da
um pulo e saca várias armas numa só; bazuca, metralhadora, uma porção. – diz
MaGá gesticulando e com direito a toques de sonoplastia.
A galerinha vai se empolgando com os trejeitos de MaGá e seguem
calados só ouvindo.
- Todos os bandidos vão e param com os olhos todos arregalados,
olhando o Máscara pega aquelas armas. Quando ele aperta o gatilho, todos saem
correndo desesperado...
Nessa hora MaGá cai em pura inspiração teatral e começa a encenar
de forma nunca feita antes. É nessa hora que entra em cena o Coiote – do
Papa-Léguas – e sua Rider. Quando diz que os bandidos saem correndo
desesperado, vem logo na mente de MaGá as famosas cenas de desenhos tipo Papa-Léguas, onde o Coiote tenta sair de
um lugar quando uma bigorna ou um pedregulho vai cair na cabeça dele e não
consegue. MaGá começa a interpretar perfeitamente essa cena – suposta cena,
porque no filme nada disso acontece – e fica correndo sem sair do lugar,
enquanto a turma ria. Até que entra em cena sua velha sandália Rider. De tão velhinha ela já estava
gasta na ponta, e nessa de ficar correndo sem sair do lugar MaGá consegue voar
sem sair do lugar. Em uma passada firme nessa parte gasta, o pé consegue
escorregar e ele cai de queixo no chão.
POOOOOOWWW!!!
MaGá cai no berreiro, o pessoal na rua se assusta. As vizinhas que
ficam na janela de fofoca esticam o pescoço pra ver o que tava acontecendo, até
chegarem na casa de MaGá e gritarem sua mãe, que no susto e sem entender nada
corre pra rua.
- O que houve? – pergunta ela sem ainda ter visto MaGá – Mas o que
você fez garoto? Meu Deus!!!
O pai de MaGá então corre também pra rua, vê MaGá em choro e com o
queixo arrebentado, resolve então pega-lo no colo e levar ele pra dentro. Lá
coloca ele deitado no chão do quarto apoiando a cabeça num almofadão. MaGá fica
olhando pro teto pra evitar o sangue de escorrer pelo corpo. Só escuta o
burburinho no quarto, e de rabo de olho vê várias cabeças olhando ele com cara
de assustado, e comentando.
- Deus, como ele fez isso? – falou alguém que estava por ali.
MaGá então começou a chorar, era dezembro e o natal estava pra
chegar. Vendo todos preocupados, assim como vizinhos e pais. MaGá viu essa
preocupação como uma bronca de algo que ele tinha feito errado, e como quem vai
mal ou faz mal, ele começou a pensar que seria castigado e papai Noel não iria
trazer presente.
- Foi sem querer, eu juro. Eu não quero ficar sem presente, eu
prometo que não faço mais isso. – falava MaGá soluçando de choro.
Assim que o pai de MaGá viu um hospital onde poderia levar ele, já
pegou ele no colo e levou. Coincidência ou não, era o mesmo local de quando
MaGá cortou a perna. Já na sala do médico pra poder costurar o queixo, o médico
resolve interagir. Coincidência maior, era o mesmo médico da ultima vez.
- Como é que o menino conseguiu essa obra de arte? – papeava o
médico enquanto lavava as mãos, tranquilão e não reconhecendo eles.
- Também não sei doutor. Só ele. – disse também o pai sem
reconhecer o médico.
O médico então começa os preparativos junto com as enfermeiras. Na
maior descontração e bate papo eles vão se ajeitando, e o pai só observando.
Tudo isso enquanto MaGá se desesperava de vontade de mexer e ardência no
queixo. O pai só observa quieto, até certo ponto. Quando a enfermeira coloca um
pano com um buraco no meio no rosto de MaGá, com a intenção de tampar sua visão
pra que o médico pudesse costurar seu queixo com tranqüilidade, MaGá se
incomoda e se remexe na mesma hora. Nesse momento seu pai, com toda boa vontade,
entra em cena. Todo preocupado ajeita o pano que estava saindo do lugar. Quando
o médico repara...
- Pai, fez merda! – diz o médico.
- Hãn!? – murmura o pai levantando a cabeça, ainda com mão no
papel e observando o médico.
- Pera aí, te conheço não? Vocês...
- Humn... Acredito que não, vou ali beber uma água. Cuida dele. –
diz o pai se retirando da sala.
O médico rir e encara MaGá melhor, e depois vem uma lembrança.
- E aí, a perna, melhor? – disse com um sorriso no rosto e
levantando a bermuda pra ver a cicatriz.
Depois das apresentações, é hora de mão na massa. Melhor, mão na
agulha e na linha. Deitado na cama MaGá vê o teto e o médico aparecendo com a
máscara, toca e luvas.
- Vamos lá.
Pra terror de MaGá, graças ao pai, vê o médico passando a agulha no
queixo, esticando a linha como se fosse sua vó numa tarde qualquer costurando
os buracos da sua camisa. MaGá fecha os olhos e apaga. Quando acorda sente a
cabeça meio pesada, percebe que ela está enfaixada e vê seu pai tomando um café
e conversando com o médico. Ele levanta e encosta de leve a mão no suposto
queixo, que na verdade ta mais parecendo uma barba a lá Osama.
- Cuidado, deve ta meio dolorido. – diz o médico pra MaGá. – Já
acordo pai, agora vocês podem ir, e na próxima vez, tenta vir com uma virose ou
uma gripe.
- Pode deixar, mas isso aí é com ele né. – respondeu rindo.
- Ah, e você, na próxima, evita mexer em alguma coisa. – disse com
um sorriso no rosto e apertando a mão do pai na despedida.
- Pode deixar doutor. Que não precisemos nos encontrar de novo.
Já no carro na volta pra casa o pai brinca com MaGá, até pra
distrair ele.
- Que barbão hein. Ta de papai Noel! – disse rindo ao volante e
dando um tapinha na perna de MaGá.
MaGá tenta responder com um sorrisinho, mas só tenta. Quando
chegam na entrada da rua observam muita gente na rua conversando e esperando
MaGá chegar pra saber como ele estava e se tudo bem. Nessa hora, pra vergonha
alheia de MaGá, seu pai resolve improvisar e transformar um simples “ta tudo
bem com ele” com berros pela janela do carro.
- O Papai Noel chegou! Oh o Papai Noel! – gritava com direto a
buzinadas.
“Ah pai, não acredito nisso! ... aí, que dor!”
Quando chega, todo mundo que ver MaGá. Ver como ta, se está tudo
bem. MaGá com cara de cansado nem fala nada, quem fala é seu pai, enquanto ele
vai entrando pra casa. Já em casa, no sofá, um dos seus amigos vem e senta
perto dele.
- E aí, ta tudo bem?
MaGá acena com a cabeça dizendo que sim.
- Mas então, o que aconteceu depois que o Máscara sacou a arma? –
perguntou o amigo.
MaGá então olhou pro amigo de rabo de olho e sem muita vontade de
responder, respondeu.
- Saiu uma bandeirinha das armas escrito “Bang!” – responde MaGá com voz baixa.
Seu amigo então cai na risada. MaGá não sabe se porque realmente
achou engraçado – o que no filme realmente era, porém agora ele não estava
achando – ou se porque MaGá simplesmente se ferrou todo por causa de uma
simples bandeirinha escrita, Bang!

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