Assalto acontece. Como dizem que todo homem se
não é corno um dia
vai ser. Com o
roubo acontece a mesma coisa. Todo mundo um dia vai “perder”. Alvinho já foi
assaltado algumas vezes, se sentia azarado e vivia preocupado. Ele e seu pai já
perderam uns dois carros na av. Brasil. MaGá ao contrário se sentia abençoado.
Em um dia de feriado MaGá estava na casa de Alvinho e ficaram de
ir, junto com a turma, pra casa de praia. Alvinho acordou cedo e foi de carro pegar
os outros que moravam perto. MaGá iria junto, mas disse que tava meio cansado e
ficou pra tomar café da manhã. Quando Alvinho voltou, a pé, ficou sabendo que
tinha sido assaltado. Mas não por qualquer um, seu vizinho. Isso sim que é
azar. Não deu nem para o desenrolo, foi geral de busão pra casa de paria.
Rafa também já teve seus dias de azar. Morava em uma rua meio escura e deserta, e uns dois celulares
já se “perderam” na mão da bandidagem. Esse então não via a hora de entrar pra
policia e da porrada em vagabundo. Até o doido do Manolo já tinha sido
assaltado. Esse coitado, já estava chegando em casa, na esquina, quando um
bandidinho pediu para passar o celular. Todos já perderam, menos MaGá.
Ele tinha certo na sua cabeça que aquilo não era questão de sorte ou azar, apenas algo do tipo… Estado de Espírito. Se a pessoa
estivesse preocupada, com certeza aconteceria. Assim como para-raio atrai raio
e cachorro sente o tal cheiro da pessoa quando ta com medo, o assalto
aconteceria. Mas se a pessoa estivesse tranquila, nada aconteceria. Mas assim como
a cornidão, o “perdeu playboy” um dia chegaria de assalto.
Rodoviária Novo Rio, 4 horas da tarde de uma sexta-feira. Rio de
Janeiro tava brilhando e pegando fogo. MaGá tava indo pra São Gonçalo, casa de
Chico, primo do Manolo. Enquanto estava indo na direção da subida da ponte um
sujeito de bermuda surrada, camisa pólo escorraçada e com um bigodinho chinfrim
o aborda gentilmente.
- Aí amigo, tem como você me da uma atenção rapidinha? – perguntou
o sujeito.
Enquanto isso MaGá acelerava o passo. Odiava esses pedintes pé no saco.
- Calma aí, quero roubar nada não. Só uma moedinha pra eu comer
alguma coisa ali. – disse o sujeito acompanhando MaGá.
- Não to com dinheiro aqui, só tenho o bilhete único. – disse MaGá
acelerando os passos.
- Se quiser pode pagar um lanche ali pra mim, só to com fome. –
disse o sujeito acompanhando MaGá a passos rápidos.
- Poh... Foi mal, mas não to com nada, só o bilhete... – respondeu
MaGá.
Quando MaGá chega no fim da calçada pra subida da ponte e para
esperando um momento para atravessar uma bifurcação que ali tinha, ele repara o
Sujeito o olhando de cima a baixo. Reparou uma atenção especial pro seu bolso,
o bolso que tava o seu celular. Já sentiu que ali tava a dica... O dia chegara.
- Passa o celular! – diz a bandidagem.
- Hãn!? – pergunta MaGá se fazendo de maluco e na esperança de que
tudo não passava de um engano.
- Passa o celular agora! Bota aqui! – diz o meliante estendendo a
mão – Bota agora na minha mão! – diz batendo com a palma da mão.
[lapso magamental ON]
- Tu ta de sacanagem comigo né não nego? – diz MaGá impondo a voz.
- Passa logo o celular moleque! Vai, rápido! Passa logo aqui que
ninguém vai ver. – disse o pedinte.
- To com mala mas não sou turista não. Tu sabe quem eu sou rapá?
To indo pra São Gonçalo o Mané! Tu acha que eu vou ser assaltado agora, indo
pra São Gonçalo?! – retrucou MaGá se impondo.
- Não me interessa quem tu é, quer apostar a sorte agora
marrentinho? – disse sacudindo de leve a mão atrás das costas, como se mexesse
na suposta arma.
- Vou te dizer a real! Quer o celular? – disse pegando a o celular
do bolso – Eu te dou, mas vou te dizer... Conhece a Capitã de São Gonçalo? Não?
Beleza, se liga! Esse celular tem GPS. – disse apontando o celular pro
bandidinho – Não sei se no teu morrinho tu já ouviu falar, mas pela internet
tem como saber onde ele vai parar. Tu vai vender esse celular pra sustentar teu
vício por tóxico, vai vender pra
bandidagem pior que tu. Assim que chegar em SG vou procurar a Capitã, aí meu
irmão... Tu da fuuu! Ela vai atrás do
celular. Se tiver contigo, o que duvido, vai ser mais rápido. Se tu vender,
quem tiver com ele vai sofrer pra dizer onde te acham. E quando disserem, vai
ser dois atrás de você. A bandidagem e a Capitã de São Gonçalo. E tu vai torcer
pra sua bandidagem chegar primeiro que a Capitã! Porque meu amigo... A Capitã é
pior que o Capitão Nascimento! – disse MaGá dando ênfase na Capitã de São
Gonçalo.
- Deixa de história e passa essa porra pra cá! – disse o
bandidinho querendo mostrar atitude.
- Toma! – disse esticando a mão com o celular pro carinha – Tu
acha que to aí pra isso? Eu vou ter ele de novo ou você na cadeia. Ou... Tu
quer apostar na sorte né marrentinho!? – disse MaGá em tom de sarcasmo entregando
o celular na mão do bandidinho.
MaGá então vira pra pista na espera de atravessar e evita olhar
pro bandidinho na tentativa de mostrar descaso. O que deu certo. Antes de
atravessar, depois de alguns minutinhos o bandidinho bate no ombro de MaGá e
entrega o celular sem falar uma palavra. Ele só da um suspiro de alivio e um
sorriso de canto de boca, seguindo então para o ponto de ônibus.
[lapso magamental OFF]
Se fosse simples assim como em filmes de
Sessão da Tarde com Macaulay Culkin estaria ótimo. Mas como a Mãe de MaGá diz, a
vida não é igual uma novela ou filmezinho de Sessão da Tarde.
- Passa o celular agora! Bota aqui! – diz o meliante estendendo a
mão – Bota agora na minha mão! – diz batendo com a palma da mão e olhando para
os lados.
- É... ta, ta. – disse MaGá meio que falando baixo e tentando
achar o celular.
- Vamos, rápido! Ninguém vai ver, tem ninguém aqui. Bora! – diz o
meliante falando rápido e com as mãos nas costas.
MaGá tinha a sensação que ele não tinha arma nenhuma, mas fazer o
que. Não ia tentar a sorte. Então assim que pegou o celular tentou uma ultima
situação. Uma negociação.
- Poh, tem como me dar o chip pelo menos, só o chip? – disse MaGá
já com o celular na mão.
- Ta, ta... Mas me dá que eu mesmo tiro. Passa pra cá. – disse o
delinqüente cada vez mais nervoso e olhando para os lados.
MaGá então entregou seu celular pro bandidinho. O pior é que o
celular não era nenhum touchscreen, iphone ou qualquer outro que valesse a pena
roubar. Era um LG vagabundinho que ganhou da operadora. Pior que isso era o
bandidinho sofrendo pra abrir o celular pra tirar o chip. Mas uma situação mais
inusitada estaria pra acontecer.
- Não consigo, tira você aí. – disse o bandidinho entregando o
celular pro MaGá.
“Hãn!?”
Assim que MaGá conseguiu tirar a capa o bandidinho pegou o celular
da mão do MaGá pra tirar a bateria. Nem a bateria o imbecil conseguiu tirar, e
pra situação ficar mais estranha, retornou a devolver o celular pro MaGá.
- Vai, rápido! Tira logo essa merda aí! – disse passando o celular
pro MaGá de novo.
“Que merda! Já to sendo
assaltado, ainda tenho que ficar ajudando bandido a me roubar?! Aff! Já to me
sentindo um otário sendo roubado, ajudando a bandidagem então só piora!”
MaGá então pega de novo seu celular, retira a bateria e pega o seu
chip. O bandido então pegou o celular e sumiu. Assim que o bandidinho pegou seu
celular e vazou, nenhum carro passava
mais na tal bifurcação.
“Hãn! Ta de sacanagem!”
Assim que atravessou, o primeiro ônibus que passa era o maldito
Coesa amarelinho pra São Gonçalo.
“Puta sacanagem! Ta me
zoando!”
MaGá então subiu no ônibus e foi a ponte toda pensando sobre o
assalto. Soltou até um sorriso de canto de boca de tão inusitado foi teu
assalto. Não acreditava que sua tal sorte,
estado de espírito ou qualquer outro
significado para o porquê dele nunca ter sido assaltado ter acabado. Quando se
encontrou com os amigos uns mostraram preocupação outros zoaram.
- E aí, ele te mostrou a arma? – perguntou Rafa.
- Não, não. Só boto a mão pra traz e pediu pra por o celular na
mão dele. Não ia tentar a sorte. – respondeu MaGá.
- Ah cara! Eu falo pro maluco: “Cadê o ferro? Mostra que eu te dou
o celular.” Se não, meto a porrada num vagabundo desse. – retrucou Rafa.
“Há! Como se fosse fácil
assim... Sei!”
- Tu não saiu correndo por quê? Eu saia correndo, tem como não! –
disse Manolo.
- Como vou sair correndo? Tava no meio da bifurcação, com o ônibus
e carro passando voado na minha frente.
- Ah não! Eu saio correndo... – retrucou Manolo.
- Não liga não, ta certo. Já passei por isso. E como... Passa o
que pediu e deixa a vida seguir. – disse Alvinho.
- Pelo menos consegui garantir meu chip. – disse MaGá.
- Como assim? – perguntou Rafa.
- Pedi pro bandinho meu chip e me deixou ficar com ele. –
respondeu MaGá.
- Hahahah... Tu foi assaltado e pediu o chip ainda? Fez amizade
com o bandidinho? – comentou Zéh.
- Aí MaGá, pega um copo d’água ali, mas antes de ir, deixa o chip
ai pra mim. Por favor! – debochou Manolo, rindo de MaGá.
MaGá não teve seqüela do assalto, nenhum trauma ficou. Apenas as
brincadeiras com o chip. Tudo virou motivo pra MaGá deixar o chip. Pior que ser
assaltado é o jeito como foi assaltado, e pelo bandinho que o assaltou. MaGá
além de assaltado, levou um trote da bandidagem. O bandidinho ainda deixou ele
acariciar seu celular – vagabundinho ele sabe – duas vezes e ainda entregar na
mão como se emprestasse pra alguém dar
um telefonema. Vacilo!

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