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domingo, 31 de março de 2013

Pelo Vale da Sombra da Morte

Para MaGá inferno sobre a terra é igual filial de McDonald's, tem várias e tem em todo lugar, só não conhecemos todas. MaGá conhece alguns infernos por ai. Alcântara, Campo Grande, Madureira... Pra MaGá, todo tipo de cidade com calçadão ou mercadão popular é uma filial. Hoje ele conheceria mais uma filial, Nova Iguaçu. Mas o drama de MaGá começou bem antes de conhecer o dito cujo inferno, ele teria que antes passar pelo purgatório.

MaGá estava em Seropédica, cidade essa que parece uma cidade do século passado, mas com uma “Casas Bahia” e uns dois bancos pra poder se dizer desse século. Se Nova Iguaçu é um inferno sobre a terra, o caminho de Seropédica até lá é o purgatório. E o ônibus Ponte Coberta (Seropédica – Nilópolis) seria a carruagem de fogo, o cavalo do apocalipse. “Livrai-nos do mal, amém!” não deu muito certo pra MaGá.

Era janeiro, verãozão e como trote do Capiroto a carruagem de fogo levava 40min no mínimo para passar, podendo chegar a 1hr. MaGá quando ta chegando no ponto de ônibus vê o ônibus se aproximando, estão quase que na mesma distância. MaGá não acredita, logo pensa “corro ou não?”. Olha pro ônibus e como uma disputa de velozes e furiosos encara o ônibus e o vê encarando-o. O ônibus sai na frente e MaGá então corre.

Quem conhece esse transporte do inferno sabe, ele é apocalíptico: ou você o pega agora ou se bobear só pega na próxima ressurreição.

MaGá corre, ta chegando perto quando vê gente saindo e entrando do ônibus, chega a pensar em desistir, mas agora era questão de honra. Já tinham o visto correndo, então melhor correr agora pra não virar chacota – o que não deixa de ser natural. E é, é isso mesmo que acontece. Mais 1 hora de paciência pra MaGá no solar de Seropédica e 1x0 no placar pro Capiroto e sua trupe. Passadas horas e minutos, MaGá entra no outro ônibus.

No ônibus era só o terror, parecia uma sauna andante com direito a choro de bebê como melodia do inferno. Suspensão nos ônibus pra quê? Era só quicando e batendo o ombrinho no amiguinho do lado. No caso, no gordinho do lado. Em meio a esses pequenos detalhes infernais, MaGá sente que um cheiro meio azedo pairava no ar. Procurando algo sem saber o que, MaGá repara um pequeno amontoado de vomito perto da porta. O gorfo do Diabo!

“Ah não Senhor, que merda!”

MaGá então tenta mudar o foco, mas o foda desses momentos vomitacais, é que fica difícil mirar outro lugar, parece que aquele azedume puxa a atenção de uma forma sobrenatural. Mas porque não piorar?

Eis que entram dois Davids Guettas do subúrbio no ônibus tocando o foda-se. Melhor - ou melhor, pior! -, o funk!

Antes que digam que MaGá é preconceituoso e esteja insinuando que isso é coisa de preto, verdade seja dita, os dois eram pretinhos da cabeça amarela e ainda com óculos no estilo Restart. Verdade!

Poderiam ser amarelos de cabelo preto, a ordem das cores não altera o veredicto.

Se por natureza dizemos que a turma do fundo é difícil, imagina a turma do fundo do Capiroto! Os dois Guettas do capeta resolveram ir pro fundo fazer uma batalha de DJs com aquelas caixinhas do demo! Trilha sonora: Ela é top! (ela não anda, ela desfila) x Aaaahhh lelek leklekleklek.

“Aaaahhh cacete-cete-cete-cete-cete!!!”

Chegando ao ponto do desespero, do insuportável, daquele arrependimento de ter pegado o ônibus... O som acaba. Acabaram as pilhas.

Será que era uma manifestação de que papai do céu tava junto? Amém! Afinal, já diz na bíblia que Ele vai ta junto pelo vale né.

Passando algum tempo livre dos Guettas, mas não do calor, do bebê, da mãe histérica, do gordo - sentado ao lado. Sobe ainda no ônibus a velha gorda. Toda velha gorda de ônibus é insuportável, coisa mais chata!

Ela vai atrás de um lugar pra sentar. MaGá – de súbito – já foi reparando se não estava em um daqueles bancos amarelos. Não estava. Problema com ela não teria, mas o outro carinha... Sósefuú!

O carinha tava sentado no corredor, fugindo do sol que tava na janela. E não estava nos bancos amarelos, mas mesmo assim a velha foi velha.

- Deixa eu sentar aí filho. – diz a velha pedindo pro rapaz sentar na janela.

O carinha então abre passagem pra ela sentar na janela.

- Não meu filho, deixa eu sentar aqui, passa pra lá.

- Ah! Não tia, foi mal, mas ali não sento não. Sem chances, não posso. – diz o carinha.

- Ô muleque, sua mãe te deu educação não!? Isso é duma falta de respeito. – diz a velha, pra todo o ônibus ouvir.

- Qual foi tia! Educação ela me deu, mas essa hemorróida dos infernos não. Aí tu quer que eu sente nessa chapa quente!

- Que deselegante. - comentou o gordo ao lado, pra surpresa de MaGá.

- Hemorróida?! Hemorróida por hemorróida, eu sou mais eu! Sou velha, tenho artrite, artose, ostoporose, tomo tarja preta e fora a menopausa que nem lembro mais, ainda tenho hemorróida!

“U-hu Nova Iguaçu! Que desnecessário, Leva Senhor!”

Então alguém cansado de tanto “Casos de Família” ao vivo levanta e dá o lugar pra velha, que senta e continua reclamando dos calvários da vida.

Passado mais algum tempo dessa prova de fogo pelo deserto Sero-Guaçu, MaGá chega ao final do seu destino. Quando a porta abre, um vapor quente lhe lambe o rosto. Parecia um sopro de dengo do Capiroto no quengo de MaGá. Só não sentiu calafrios por causa dos 40º da terrinha.

Então ao som de “Ela vai de camarote” e CDs e DVDs a 4 por 10, MaGá segue seu rumo no calvário de Nova Iguaçu.

Porém uma coisa lhe passa pela cabeça: Se até Nova Iguaçu foi assim, o que dirá Nilópolis? Que o Senhor o livre e guarde! 

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