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segunda-feira, 31 de março de 2014

Se tudo der certo...

MaGá havia acordado empolgado, estava ancioso para o novo dia, mas isso só até o café da manhã. Já tão cedo um presságio chegou chegando e não foi dos bons. Tomando seu cafezinho da manhã, na maior das humildades, MaGá conseguiu a proeza de deixar sua fatia de pão cair no chão. Com a manteiga virada pra baixo. Isso três vezes, três vezes! Quase que apocalíptico.

- Ai cacete! Desse jeito, se tudo der certo, hoje vai... Nhaaá! – sacudiu a cabeça e bateu na madeira.


Vida que segue. Ele então abotoou camisa, pegou a mochila e partiu para a missão do dia. E se tudo der certo...

MaGá estava no ponto de onibus e seu dia já começou com uma simples questão de multipla-escolha, de duas opções: esperar o ônibus com ar, o  Expresso, que demora uma eternidade mas tem ar – sua preferência, verdade. Ou ir de Parador, que aparece mais vezes, mas sem ar. Depois de dois Paradores passarem ele então resolveu que o próximo ele pega, idependente de qual seja.

Nenhuma das alternativas anteriores. Veio o onibus para o Metrô. Resolve então pegá-lo e fazer uma baldeação, além do mais, esse tem ar. Porém um ar bem fulero, o que quer dizer, com um ambiente levemente “sauneado”. Mas antes fosse só isso – o que não é pouco num dia de calor infernal -, acrescenta-se um pequeno detalhe de 1 hora; o tempo que ele levou pra fazer um trajeto que costuma ser de 20 minutos.

MaGá respira desapontado em meio ao engarrafamento e na sua cabeça vem a imagem da sua fatia de pão rodopiando em câmera lenta até o chão.

Seja quem for que comanda essas coisas de mau presságio, seja lá onde for, não ouviu o Knock, knock, knockin’ on Presságios door que MaGá deu na mesa da cozinha.

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Assim que chega no metrô, já uma pedra no sapato, o Bilhete Único não passa. Vai pra fila. Que fila!

Vida segue e o vagão também. Lá dentro MaGá vai indo numa boa, em pé, até que do nada... um puxão na sua camisa, seguido por um grunido de dor e desespero. Leva um susto! Não entende nada, uma mulher o agarra pela blusa se pendurando nele.

- ããããnnnnhhhhhh... – “diz” a mulher.

- Calma, calma! Solta o moço, solta o moço! – diz o homem ao lado dela.

- ãããããnnnnnnhhhhhhhh...

- Desculpa, moço!

MaGá só consegue balançar a cabeça, atônito, fazendo como se tudo estivesse na maior tranquilidade. Ele então segura a mão da mulher - que se jogava ao chão - para evitar ficar sem camisa.

- ALGUÉM PARA ESSE METRÔ! A MULHER TA PASSANDO MAL! – berra uma alma no vagão.

Um cara vai e aperta o botão vermelho ao lado da porta. MaGá vê tudo acontecendo, completamente atordoado. A mulher continua:

- ããããnnnnhhhhhh... ãããããnnnnnnhhhhhhhh... !!!!

O metrô para, as portas se abrem e logo um dos carinhas do metrô tenta ajudar o senhor a levar a mulher pro lado de fora. Mas essa tava mal, e bota mal nisso. Estranhamente mal, para desespero de MaGá!

- ãããããnnnnnhhhhhh AAAAAAHHHHHHHHH...

- Não, tudo bem, pode deixar comigo. – diz o Senhor para o carinha do metrô.

- AAAAAAHHHHH...

- Não, meu senhor, temos que levar ela pra fora, não tem como deixar ela aqui, o vagão tem que seguir. – diz o segurança a carregando para fora.

- AHHHHHHHHHHHHH ÃÃÃÃÃÃNNNNNNHHHHHH AAAAAAHHHHH...

No meio da confusão, com todos preocupados, um dos solícitos a situação resolve ajudar.

- Aqui, a bolsa deles! – leva para fora do vagão antes que a porta feche.

A porta fecha. A bolsa fica. MaGá parte.

- Nããããão! Essa bolsa é minha! – berra MaGá, no seu pensamento.

A bolsa é, era de MaGá.

MaGá só vê a bolsa ficando para trás. Olhando pela janela do vagão, com a roupa toda amaçada e todo engrunhado visualiza sua segunda fatia de pão se espatifando no chão. Bate tão certeiro que a margarina Qually de cada dia espirra pelos lados.

Só restou a MaGá descer na próxima estação, voltar, desenrolar a recuperação da sua bolsa (isso porque os seguranças do metrô acharam que MaGà estava querendo roubar a bolsa da mulher que, bizarramente, passava mal) e retornar a missão do dia. Ah, a missão do dia: Entrevista de Estágio.

MaGá depois de muito sacrifício, consegue enfim chegar. Ele senta na salinha junto com os concorrentes, que olham pra ele de rabo de olho. MaGá está levemente suado e amassado.

Passado um tempo seu nome é chamado e ele é convidado a entrar. Lá dentro a supervisora folheava algumas folhas quando ele entrou.

- Seja o que for, pode deixar ali no canto.

- Como?

- A encomenda, não sei. Preciso assinar alguma coisa?

- Não, desculpa. Hahah. Eu estou aqui para a entrevista.

A supervisora então coloca os documentos sobre a mesa e encara MaGá.

- Isso é sério?

“Má Claro que Sí!”

- Sim, porque? – pergunta com uma cara de sem graça, sem entender.

- É dessa forma que você se apresenta em uma entrevista? Que tipo de empresa você acha que é essa? Um bar? Que...

MaGá então começa a visualizar sua terceira fatia de pão, em slow motion, indo em direção ao chão. Conforme a fatia vai ao chão, seu rosto vai desanimando, ele já pensa nas consequências, sua barriga ronca, ele não comeu nada ainda. Ela caiu e de novo virada pro chão. Ele não aguenta, liga o botão do foda-se, pega a fatia e come.


- Quer saber, foi engano. Tchau, até... – MaGá vai.