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domingo, 29 de julho de 2012

"Tenta sim. Vai ficar lindo..."

TEXTO DE VALERIA SEMERARO 


"Tenta sim. Vai ficar lindo..."

Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos m...e avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?

Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.

- Cavada mesmo.
- Amanhã, às... Deixa eu ver...13h?
- Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de "Calígula" com "O albergue".

Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.

- Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo.
De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.

- Quer bem cavada?
- .é... é, isso.

Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.

- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.

- Ah, sim, claro.

Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma esp átula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

- Pode abrir as pernas.
- Assim?
- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.
- Arreganhada, né?

Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha Virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.
Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.

- Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.

- Quer que tire dos lábios?
- Não, eu quero só virilha, bigode não.
- Não, querida, os lábios dela aqui ó.

Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.

- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.

Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.

- Olha, tá ficando linda essa depilação.
- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.

Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo.
"Me leva daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei à terra
quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.

- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.

Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.

Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.

- Segura sua bunda aqui?
- Hein?
- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.

Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la.
Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:

- Tudo bem, Pê?
- Sim... sonhei de novo com o cu de uma cliente.

Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.

- Vira agora do outro lado.

Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.

- Penélope, empresta um chumaço de algodão?

Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.
- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.
- Máquina de quê?!
- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.
- Dói?
- Dói nada.
- Tá, passa essa merda...
- Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo: "Baixe a calcinha".... como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.

- Prontinha. Posso passar um talco?
- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.
- Tá linda! Pode namorar muito agora.

Namorar...namorar?!... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada. Mas eu ainda estou na luta... 
Fica a minha singela homenagem para nós mulheres!



- tirado de Eita Vida

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Cachorros me Mordam!


Era sexta-feira, dia de se esbarrar por ai. MaGá recebe uma mensagem da Pri perguntado onde está, “- eae, vc está onde? A salinha esta cheia, onde nos encontramos?”. Ele ta meio quebrado do feriado com os amigos e tá tomando uma cerveja no quiosque, mas quando a mensagem chega, ele olha e já pensa de primeira “- é ta chegando a hora de comparecer”, procura sinal e responde “- to terminando a cerveja aqui no quiosque, já já te procuro”. Coincidência ou não, MaGá se esbarra com Pri na pracinha e já manda o recado pro seu amigo.

- É, vou ficar por aqui mesmo.

- Já é, depois a gente se fala.

Ali estava Pri e sua amiga Preta. Ele marca um tempo ali, se faz de maluco e não comenta nada por amiga está ali perto. O que é se “fazer de maluco” mesmo, pois a amiga sabe de tudo e mais um pouco sobre o que rola com eles. Até que começam um papo qualquer sobre livro e MaGá lembra que tem um livro pra emprestar à ela. Então resolve ir ao quarto pegar, até porque tava na hora, o clima de “se faz de maluco” tava chato já.

Voltando do quarto MaGá entrega o livro a Pri e depois de uns cinco minutos de conversas nada haver sua amiga resolve ir dormir, claro, porque está cansada ou chegou a hora, ou qualquer desculpa do tipo pra acabar com o clima “se faz de maluco” de MaGá. Antes de sair Preta deixa um recado.

- Não vão dormir tarde de novo hein! Cuidado que está cheio de tarados por aí! – diz com uma cara de sarcasmo.

Pri se tornando uma excelente canalha, não perdoa e solta um.

- Ui, ui delícia!

Foi a deixa pra MaGá ficar sem graça e pensando, “é bem melhor quando todos se fazem de maluco mesmo”. Já que eles resolveram ficar nessa sacanagem de se esbarrar por ai, se fazendo de maluco sem ninguém saber e coisas do tipo, depois que a Preta foi embora eles começaram a conversar coisas do tipo nada haver. De vez em quando rolava aquelas boas e velhas “diretas indiretas”, tudo isso porque não tinha passado de meia noite e tinha bastante gente ao redor da pracinha.

Até... Que um deles aparece. De mancinho ele chega e cola do lado da Pri, um vira-latinha, tinha cara de macho, porém tinha tetas, vai saber, de repente a moda #GLBTTSeafins chego para os cachorros também. A Pri adora cachorros, assim como eles adoram ela. MaGá nunca imagino que isso poderia ser um problema, se ficassem latindo para o vento lá longe dele, tudo bem, e assim eles conviveriam em harmonia. Mas nem tudo são rosas para MaGá. A Pri da uma afastada no cão para eles ficarem mais a vontades, até porque tudo tem sua hora, até a hora do carinho dos cachorros. Na verdade tava chegando a hora do carinho para outro cachorro, o MaGá, assim como ela as vezes chama ele, sem sua aceitação, porém na hora da sacanagem tudo vale. Na verdade quase tudo se é que dá pra entender.

Papo vai, papo vem e as indiretas vão ficando mais diretas e o ato de se fazer de maluco já vai perdendo sentido, até a Pri começar.

- Será que a salinha tá cheia ainda? – diz com aquela cara.

MaGá pra não sair do papel de maluco segue o fluxo.

- Pois é, não sei. Ta aceso ali, vou dar uma olhada.

Depois de dar uma olhada e confirmar que realmente está cheia os dois soltam um “que merda!”, na verdade não dizem nada, mas com certeza pensaram o mesmo. De volta à pracinha os dois sentam e nada sai, o papo de maluco evolui até não precisar dizer nada e ficar só o silêncio. Isso quando a Pri resolve tomar as rédeas e ser o macho do romance.

- Eae, vamos para onde? – pergunta Pri lançando na cara, pra vergonha de MaGá.

MaGá fica meio assustado e pelo visto vai ter que comparecer legal, e ele já tava meio cansado da viagem.

- Não sei – diz simplesmente com um sorriso idiota. – Acho que demos mole, sei que é um tanto de atrevimento, mas bem que a gente, humn... numa próxima ocasião dê pra usar o carro da Preta, olha ali, bem escondidinho atrás.

Pri sorrir, mas depois faz um cara de decepção, acha a idéia excelente, mas não perde a oportunidade de dar uma “bola fora” em MaGá.

- Muito bom mesmo, por que você não pensou nisso antes. Agora a Preta ta dormindo e nem sei onde tá a chave, ela vai me matar se eu for lá acordar ela. Por que você não penso nisso antes!?

- Ué, pensei né. Agora fica pra próxima, e se falo na hora também, sei lá. Nada haver.

Até que MaGá repara Pri olhando de vez em quando, muito pro salãozinho da praça, ele também já tinha reparado o salão meio ali distante e meio escuro também, mas preferiu não comentar nada. Até porque não sabia o quanto ou onde a Pri toparia “se esbarrar por ai”. Então ele resolve se fazer de maluco pra saber se é uma boa ou não.

- O que tanto tu olha pra ali? É o salãozinho mesmo? O que a senhorita está pensando, hein. – pergunta MaGá.

- Ué, tava pensando que ali pra aquele lado é escuro e não parece ter ninguém por ali.

- É, tava pensando o mesmo, na verdade, tava pesando se a portinha é aberta e da pra entrar. Quer que eu vá ali dar uma olhada?

- Tá esperando o que!? Haha. – diz com um sorriso malicioso.

Pois então é aqui, que começa a história e MaGá com seus problemas. Ele resolve então de mancinho e na estreita, pra ninguém perceber, verificar como é para entrar no salão da praça. Beleza! MaGá chegou até lá e tranqüilo, reparou que não tem portinha e que até que é bem escurinho o local. Como diz em uma musica que ouve do De Leve, “perfeito pra se dar uns peginhas!”. O problema então começa agora, é na volta. Quando MaGá está à uns 10 passos de Pri o vira-latinha se levanta e começa a latir, mas não é um “au au” qualquer não, o cão pirou. Ele se aproxima do MaGá querendo chamar a atenção lá na China e não foi só o berreiro do cão não, o danado quis botar medo mesmo. Lançou os dentes pra fora e continuou latindo e ameaçando morder sua perna, chegando bem perto, mas perto mesmo! Sem ter a mínima idéia do que fazer MaGá apelo para Pri.

- E ae, tem como dar um jeito aqui?!! – disse tremendo as canelas.

A outra só sabia é rir, só depois que ela resolveu levantar e tentar amansar a fera com uns “calma, xiii, xiii..” o que de nada adiantava e MaGá só um pouco desesperado, não sabia se ficava preocupado com o cão tentando morder ele ou com o latido infernal chamando a atenção alheia. Sem ter muita idéia do que fazer e com a vergonha de algumas pessoas irem ver o que tava acontecendo, MaGá resolve arriscar sair de perto.

- Bora logo pro salão! – disse chamando Pri e puxando pela mão.

- Hehe ta bom, vamos lá.

Aos poucos e de vagarinho eles vão andando pelo canto, claro e o vira-latinha vem junto, mas agora, com direito a um amiguinho. O outro sem latir e nem ameaçar, mas dane-se é mais um cão com dentes o seguindo. Assim com Pri e seus seguranças eles vão chegando ao salão, não muito sutilmente, mas chegam. MaGá pensou que chegando lá os vira-latinhas partiriam a procura de outra perna fina pra roer, mas nada. Tava só começando.

MaGá tenta relaxar e aproveitar o momento com a Pri no salão, mas não consegue focar, tem um cão latindo e olhando pra ele. Então chega um momento em que o cão para. MaGá para e reflete, acha que é a chance de relaxar e aproveitar. Porém antes ele prefere conferir se o cão realmente foi e pra surpresa, não! O danado do cachorro deita do lado de fora do salão e banca o vigia, do pior o melhor, o bicho ta quieto e MaGá relaxa e começa a aproveitar. Quando começa a fluir, nos fundos do salão cai uma folha ou passa um gambá, seja o que for o cachorro volta a latir pro vento igual um maluco. “filho da p#t4!” pensou MaGá e de imediato dês - relaxou, Pri na hora percebeu e não perdeu tempo, sacana como sempre, zoou.

- Haha, ta com medinho é? Hahaha.

- Tu ta de sacanagem comigo né? Não era contigo que ele tava latindo com os dentes pra fora!

Mas o pior ou algo do tipo ainda tava pra acontecer, o danado não parava de latir, a folha ou o vento já tinha ido e ele tava lá firme e forte. Latiu tanto que conseguiu chamar atenção dos cachorrinhos do outro lado da praça, virou um inferno! MaGá já nem sabia o que pensar, já imaginava alguém aparecendo pra ver o que de errado tinha acontecido com aquele cachorro. Pri de novo percebeu a preocupação de MaGá com todos os cachorros começando a latir e não se agüentou de rir.

- Hahahahaha.

- Você ta rindo de quê? Esse cachorro não para de latir. – disse cheio de nervoso.

- E agora ele ta chamando os amiguinhos dele pra ajudar ele. – disse ela cheia de deboche.

- Ah não! Sério, tu também acha isso? Pensei nisso, mas achei que era viagem da minha cabeça. Que merda!

- Hahahahaha. Tenho que te dizer uma coisa. Sei porque ele ta latindo desse jeito.

- Ih, o que houve agora? – perguntou já preocupado.

- É que duas vezes ela foi atropelada e eu cuidei da patinha dela, então agora ela ta cuidando de mim. Me protegendo! – diz ela com um sorrisão no rosto.

- Ótima oportunidade pra dar uma de Madre Teresa de Calcutá dos cãozinhos abandonados!

Latidos vão, latidos vem e os latidos só aumentam, então MaGá resolve olhar pela muretinha e ver algo inacreditável e assustador. O vira-latinha estava de um lado da praça junto com o pequeno mudo latindo igual louco para uns 4 ou 5 cães do outro lado, tava parecendo uma cena de “Gangues de Nova York”, até outros dois aparecem em um outro canto. MaGá então fica desesperado, “como assim isso tudo aqui, como eu vou embora agora?” até que ele vê que o vira-latinha tá longe e vê uma boa deixa pra ver como é lá no fundo do salão, tinha uma muretinha maior como se fosse entrada de banheiro e ele já pensa que se tiver um espaço bacana ele conseguiria ficar com ela lá, e quem sabe os cachorros não achariam ele. MaGá mansamente  vai até o fundo e ver que dá um bom local “para se dar uns peguinhas!” e chama a Pri, que logo em seguida vai.

Em imediato MaGá relaxa e começa a aproveitar o momento, e assim as coisas foram esquentando, até que – quantos “até que” vai ter essa bendita noite não!? – o silêncio toma conta. Como um bom viciado em filmes MaGá estranha, silêncio repentino sempre acaba em mortes em filmes. Então ele para, olha pro teto tentando focar e respira fundo pra prestar atenção, e ele começa a duvidar que tá escutando a respiração e o caminhar do cão mais perto, assim como em filmes de terror. Mas tinha algo errado, a Pri tentava porque tentava parar de rir, MaGá não tava entendendo nada e ficando louco. Como assim ele tava ali piradão com a situação e a outra se esforçando pra não gargalhar. Até que ele olha pra baixo e ver o vira-latinha ao seu lado respirando perto da sua canela, de imediato ele trava, e claro, fica muito puto! Não adiantou nada ir até os fundos se esconder.

- Era disso que você já tava rindo né. – pergunta MaGá, olhando pro alto e evitando olhar pro cachorro.

- Sim!

Diz ela com um sorriso no rosto e apontando pra parede, onde MaGá repara a sombra do pequeno mudo sentado lá.

- Então você viu esse danado se aproximando e não falou nada.

Mas como fosse alguém apenas querendo vigiar o que estava acontecendo o cão saiu, e assim que se foi MaGá foi espiar se tinha saído do salão. Que nada, apenas parou deitado atrás da muretinha de onde estavam.

- Relaxa meu bem! – diz ela com malícia.

Assim MaGá tentou relaxar e continuou ficando com a Pri e aproveitou muito bem o tempo de silêncio com ela. Com o fim dos “peguinhas!” ele por um instante pensou e até comentou com ela.

- Será que eles foram bonzinhos até demais e apenas ficaram por perto pra vigiar ninguém de entrar ou se aproximar? Acho que se foi isso mesmo tava sendo um pouco injusto com ele – diz MaGá com um sorriso satisfatório no rosto.

- Ta vendo, eles são umas graças, você que é um idiota mesmo.

Não passa dois minutos depois e começa a barulheira de novo, “p#t4 m*rda!” e MaGá não acredita, já começa a imaginar a merda que vai ser sair do salão, já se imaginava pendurado no muro fugindo das mordidas dos cachorros enquanto a Pri saia tranquilamente do salão, e até aparecer pessoas para verem o que estava acontecendo com os cachorros e ver um ser pendurado do muro. Que desculpa usar nessas horas!? Antes que algo como isso pudesse acontecer MaGá já se oferece para ir embora.

- Já deu né, vamos? Só quero ver como vou sair daqui. – diz todo preocupado, imaginando uma fuga.

- Haha, eu to tranquilaça. Sabe que eles vão atrás só de você né, enquanto eu vou sair tranqüila pro meu prédio.

- Aff! Vamos indo.

Os dois foram saindo de mancinho pelo salão pra não tentar chamar atenção, querendo aproveitar o momento em que os cães estavam berrando uns contra os outros lá na praça. MaGá então pensa que o melhor a se fazer é sair pelos fundos do salão, indo pelo mato e evitar os cães. Pri ri da situação, e ele se não estivesse nervoso também riria. Como assim fugir de cachorros pelo mato? Ele com certeza estava esperando uma noite mais tranqüila. Ele se despede da Pri e sai mansamente pelo mato com sua lanterninha do celular ligada. Quando chega ao corredor para seus prédios vê a Pri indo, e acaba chamando ela de novo para se despedir no hall entre os corredores do seu prédio para o prédio dela. Ali no silêncio e sós, eles voltam a ficar e rirem da situação. Tudo muito bom, até – de novo o até – o vira-latinha aparecer no hall e senta ao seu lado. “Cachorros me MORDÃO!!!” – clichê a expressão, ok. Já traumatizado MaGá ri de nervoso e, dessa vez “à vera”, se despedi da Pri.

- É, vou indo nessa, esse cachorros não vão me deixar em paz mesmo hoje. Vou aproveitar que ele ta manso aqui do seu lado e vou.

- Ta bom então.

- Vai lá, leva esse cão contigo e não deixa ele voltar.

- Tchau medrosinho, haha. Até a próxima. – disse ela se despedindo e levando o cão junto.

Assim ela segue seu rumo ao seu prédio com uns três cachorros seguindo e MaGá vai em direção ao seu prédio com as canelas tremendo, de frio claro, e vai rindo. E a máxima continua, tem coisas que só acontecem com ele.

terça-feira, 17 de julho de 2012

'Baseado' em uma História Surreal


MaGá sabia que mais cedo ou mais tarde passaria pela experiência da ilícita, e em certas circunstancias até licita – e simpática, fora o preconceito – droga mundial. Subliminarmente dizendo. Não que ele não tenha passado pela experiência antes, mas como os conhecidos do assunto dizem ou aqueles que se acham, é preciso mais que apenas uma pitada na pantera para ver, sentir, sabe...

Primeiro contado foi no SRD com um conhecido do Manolo, Bola. Ele morava no mesmo corredor e não largava o osso de jeito nenhum. Tudo era motivo, e sempre que possível dava uma pitadinha. Depois de acordar, afinal, nada melhor que começar o dia de boa. Antes do trabalho, afinal, trabalho é trabalho e é sempre um saco. Depois do trabalho, afinal, trabalho é sempre cansativo, tem que relaxar. Antes de dormir, claro, tem que dormir de cabeça fresca. E claro, sem contar os momentos de comemorações que merece uma comemoração, e também antes de uma boa refeição pra dar um apetite. Dizem que é melhor que Hidropônico Fontora, acredito que seja esse mesmo o nome, eu acho.

Uma coisa que MaGá admirava em relação aos seus “usuários” era comunhão entre eles. Se um copo de água não se nega a ninguém, em momentos de confraternização entre amigos isso muito menos. É sempre um “passa aí”, “vai?”, “hehehe”.

Bola foi o primeiro a oferecer pra MaGá. Costuma-se ter um espirito doador, mas até certo ponto.

- [\Prende] E aí MaGá [\Solta] Vai? – pergunta Bola.

- Não, valeu! – responde MaGá educadamente, pra não parecer desfeita.

- [\Prende] Beleza! [\Solta] – responde Bola soltando fumaça e uma respiração funda.

MaGá não tinha muito contato com Bola, mas por ser amigo do Manolo, sempre tentou. Porém nunca deu muito certo.

- E aí Bola, bora almoçar? – perguntava MaGá sempre que possível.

- Nem rola, fica pra próxima, vou comer um salgado com refresco ali na tia Sônia. – respondia Bola antes de ir pro trabalho.

E assim era comum em qualquer dia.

- Bola, e aí, a galera ta indo jantar, vamos?

- Tranqüilo, vou fazer um miojo aqui mesmo. – respondia Bola.

Comer com o Bola era só na hora da famosa larica, momentos de saldaginhos, doces e afins. Fofura, torcida, até paçoca e amendoim. Tudo que é comestível é bem vindo ao Bola.

“A dieta saudável que é sonho de qualquer nutricionista.”

Bola chegou a oferecer outras vezes a MaGá, mas como ele sempre negava, não ia ficar insistindo né. Não ia ficar desperdiçando saliva com oferecimentos atoa né, afinal tinha que utiliza-la para... Sabe-se.

Certo dia MaGá foi fazer um bico de garçom junto com Manolo, algo muito comum no SRD. Sempre que possível os mais jovens procuram esses serviços pra fazer um dim-dim extra. Eles iriam para Santa Tereza, num evento pequeno e simples. Lá MaGá conheceu Doido, outro conhecido do Manolo, mas esse aí, bem doido!

- Aí MaGá, esse é o Doido amigo meu. É gente boa. – disse Manolo, apresentando Doido com uns tapinhas nas costas.

- Fala aí, prazer! – responde MaGá com um aperto de mão.

- Ta tranquilo! – diz aperta a mão – Bora fazer esse serviçinho aqui e depois cair pra Lapa, to com uma paradinha muito boa aqui. – diz Doido com um sorriso no rosto.

Então foram todos para as suas respectivas obrigações, e depois de alguns refrigerantes, salgadinhos e cachorros-quente servidos o trio se preparou para uma volta pela Lapa. Na descida de Santa Tereza, Doido resolveu parar em um canto e pediu pra turma esperar. Achou seu canto para dixavar e apertar o bendito. Doido então aperta um fininho, bem caprichado.

- Cara, isso não ta muito fino não? – pergunta MaGá curioso – Já experimentei antes e nunca senti nada. Nem sei... deve da no mesmo. – comentou meio desanimado.

- Relaxa, tem um aditivozinho aqui. – responde Doido com um sorrisão.

Depois de preparado, começou o ritual do “passa”. Depois de Doido e Manolo chegou a vez de MaGá. Não estava muito animado com a coisa, nunca rolava algo demais. Mas depois de demonstrar um desanimo inaceitável, Doido resolveu instruí-lo por um caminho melhor.

- Relaxa. – disse passando pra MaGá – Puxa como se estivesse tomando o finalzinho da última coca-cola do deserto, de canudinho. – completou viajando, e não na maionese. – Puxa devagarzinho, mas com vontade de apreciar. – instruiu Doido em detalhes.

MaGá então puxa.

- Vai, de leve e com vontade. – depois que MaGá puxa Doido completa. – Agora prende.

- [\Prende] Hum?! – indaga MaGá levantando a cabeça e mirando Doido com os olhos sem saber o que fazer.

- Cala a boca, segura! – retruca Doido dando um tapainha na cabeça de MaGá, pra em seguida completar. – Solta agora, slowly, devagar... – disse com um sorrisinho malicioso no rosto.

Nisso Manolo é só risos. MaGá então começa a soltar, devagarzinho, fazendo bico. Quando termina, ele sente... Bateu!

“Vixi... F#D&#! P#T4 Q#!7 P4R!#7!”

Ele então para um instante e estica o braço pra passar pro Manolo. Porém quando vai dar um passo pra passar pra Manolo... O mundo de MaGá balança. MaGá sente-se como, em transformação. Seu corpo relaxa, seus olhos levemente se fecham, se avermelham, e suas percepções aguçam. Passado algum tempo essas transformações são sentidas em um ruminar na barriga e uma vontade terrível de fome. No exemplo mais escroto possível, meio zumbi, meio walking dead. Chamem o chapeleiro maluco, acordem a Alice. MaGá acaba de entrar no maravilhoso mundo de Jáh.

Ele não fazia idéia do que tava acontecendo, só via Manolo e Doido rindo, e ria junto com eles. Depois de torrar o fino do Doido eles seguiram pra Lapa, tomar umas no arco. MaGá andava pela Lapa se divertindo fácil e até demais. Depois de umas pelo deposito, arcos, rua de cima, Manolo percebeu que ele estava meio fora de si, e pelo horário resolveu voltar. A volta pro SRD é triste na madrugada. Foi então que Manolo viu o surreal acontecer com MaGá. Já na subida do ônibus MaGá teve uma reação estranha. Deu uma encarada esquisita no motorista, riu e acelerou pra sentar.

- Qual foi MaGá, que houve? – perguntou Manolo.

- Hahaha viu a cara do motorista? Muito doido! Serio, não to zoando, tu viu né? Cara de rato, muito igual.

- Qual foi, tu ta doidão mesmo hein. – disse Manolo.

- Meu Deus, olha aquele ali – disse apontando pra um sujeito de óculos que tava em um banco a direita e a sua frente – oh a cara de Mestre Spliter. – disse rindo no final, tampando a boca em seguida.

- Hahahah... para cara, sussega. – disse Manolo rindo e tentando sossegar MaGá.

MaGá estava vendo tudo que é tipo de rato, mas precisamente personagens, viu o Mickey Mouse, Stuart Litlle, Ligeirinho... mas o mais impressionante e tenso, foi em um outro momento da viajem. O ônibus foi parado numa blitz e quando os “homi” subiram MaGá arregalou os olhos.

- Fôdeu Manolo! Vai rolar matança aqui. – disse MaGá, puxando Manolo pelo braço.

- Qual foi MaGá, tem nada, é só ronda. Relaxa, a gente não fez nada. – disse Manolo tentando acalmar.

- Porra Manolo, ta cheio de rato aqui e a Isetisan chega assim? Vai da merda! – diz MaGá com os olhos arregalados e com cara de desconfiado.

- Hahahaha.. Iseti-o-quê? De dedetização é isso mesmo? Hahah... – ria Manolo da cara de MaGá, mas de forma contida.

A ronda foi rápida e não deu em nada, coisa rotineira. Mas pra MaGá só mostrava que os serviços de dedetização estavam cada vez mais incompetentes.

Seguindo pro SRD MaGá caiu em um poço de criatividade e resolveu compor músicas, tava fácil, tudo surgindo em mente. Ia rindo e escrevendo tudo no celular pra não esquecer. Manolo ia do seu lado sem entender nada, só vendo MaGá mexer no teclado do celular.

- Que você ta fazendo aí? – perguntou Manolo.

- Nada não, mandando umas mensagens pra uns companheiros – disse com um sotaque de Lula – e fazendo umas músicas. – termina com uma piscadela.

- Para cara, que mensagem, deve ta escrevendo um monte de merda. – disse Manolo tentando impedir uma possível merda.

Manolo conseguiu impedir MaGá de continuar, e pra sorte dele MaGá não demoro muito pra cair no sono, mas aparentemente um pouco tarde demais. Ele já tinha escrito algumas coisas. Quando MaGá acorda, uma surpresa, ele já estava no quarto. Levantou da cama e tava com uma sede terrível, foi direto pegar uma garrafa d’água pra beber, tava seca a garganta. De repente ele repara a luzinha acendendo na cômoda. Quando ele pega o celular, 15 mensagens.

“Que merda! Qual foi a de ontem agora?”

Tinham três de sua mãe, sendo uma delas super preocupada.

“Que foi meu filho, não entendi nada, onde você está? Me liga!”

MaGá coça a cabeça e só pensa, “F$%*#!”.

Outra mensagem era de um professor dele, o que não deixou ele nem um pouco feliz, sim muito preocupado. Deu uma golada grande de água antes de ler a mensagem.

“MaGá, não entendo, achei realmente muito deselegante sua mensagem. Espero que possa me explicar melhor o que levou a isso.”

Mais uma coçada na cabeça, dessa vez desesperada. Logo o professor com quem ele está em divida. MaGá se desespera, restavam ainda umas 10 mensagens. Amiga e amigos, pai, tia e até mulher de amigo. MaGá então resolve se fazer de maluco e fugir da responsabilidade das conseqüências. Seleciona todas as mensagens da caixa de entrada e sem pensar deleta tudo. Bebe mais um gole de água, respira fundo, liga o ventilador e volta pra cama. Deitado já na cama fecha os olhos e mesmo não querendo, pensa. Pensa que se F####!

“Na próxima eu passo, melhor assim!”