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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Hora da Resenha: Pompoarismo


Era por volta de 12 horas no SRD, hora do almoço, hora da resenha. Dessa vez junto com a turma foi a Magrinha, uma amiga da galera. Uma magrinha tagarela, mas gente boa demais. A galera se divertia com ela. Não é por causa dela por ali que a turma ia se censurar. O ritual de observação estava em funcionamento, e os comentários também.

- Nossa, olha aquela ali, ta parecendo um sapo. – disse Manolo arrancando risadas da mesa.

- Porra, que bunda!  Aquela ali anda sozinha. – disse o Rafa.

- Se aquela ali senta em mim, me desmonta! Sumo naquele mundo. – falou MaGá.

- E aquela haribu ali, nem fez a sovaqueira. Nossa, de perder a fome. – disse Zéh largando o garfo e a faca no prato. – Não suporto essas mulheres. Imagina lá embaixo. Que horror! – falou Zéh.

- Meu Deus. Não acredito que vocês ficam em pleno restaurante observando essas coisas e comentando. – disse Magrinha, surpresa.

- Tu acha que restaurante do SRD foi feito só pra comer? A gente come com os olhos também. – disse Manolo rindo da própria piada.

- Na próxima vez virei mais arrumadinha. – falou Magrinha.

- É isso mesmo, a gente não perdoa nem as amigas. – disse MaGá.

- Ah, qual foi? Não vai me dizer que vocês também não comentam dos carinhas que passam. Ficam observando e avaliando... Duvido! – falou Zéh.

- Claro que a gente fala, falamos até mais besteira que vocês. Mas sabemos ser mais discretas.

- Ah, para! Vamos começar hoje então. Escolhe um carinha aqui e faz uma observação. – desafiou Zéh, continuando. – Qual daqui é o gostosão da fila?

- Ah aquele ali a gente tava falando esses dias, grandão, parece um armário. Cara de mau e de bonzinho ao mesmo tempo. – comentou a Magrinha.

- E qual seria o comentário escroto na roda das meninas? – perguntou Manolo, já rindo.

- Uma das minhas amigas falou, “Esse tem cara de policial... Ai! Invade e me pacifica!” – interpretou a Magrinha, num tom mais elevado.

- Que isso, ta se empolgando? Que isso magrinha, que isso! – brincou MaGá, rindo junto com a turma.

- Ah para! – interrompeu sem graça Magrinha.

Então Magrinha resolve perguntar o tipo de mulher que cada um gosta, por curiosidade. Zéh falou que gosta das piriguetes, Rafa das bundudas, MaGá das magrinhas e Manolo das loiras, de preferência as burras. Alvinho curtia as intelectuais.

- E você? Qual é o cara que faz a magrinha pirar? – perguntou Zéh.

- Fácil! Gosto dos bonitos. E descentes também, mas hoje em dia tá difícil! Pessoal quer sexo na primeira chamada. Aqui é mais difícil benzinho! – disse a Magrinha

- Ih, das que se faz de difícil! Qual o problema? vai ficar enrolando pra quê? – perguntou com sarcasmo Manolo.

- Meu querido, a perseguida é minha e eu enrolo ela onde eu quiser, e quando quiser! – falou a Magrinha cheia de caras e bocas.

A galera morre de rir. Até que ela continua comentando sobre uma experiência em que conheceu um gringo.

- Que nem quando sai com uma turma e tinhas uns gringos também. Um italiano veio depois de 30 min de me conhecer, com um papinho todo solto no meu ouvido.

- O que ele falou? – perguntou MaGá já rindo.

- Sei lá. Veio cheio do sotaque, maravilhoso, confesso. Perguntei pra minha amiga e ela me disse que ele queria me levar pra casa. Tá de brincadeira comigo né. Esses gringos ficam vendo esses filmes de sacanagem lá fora e acham mesmo que aqui é turismo sexual. Quase dei um chute no saco dele. – terminou, indignada a Magrinha.

- Mas hoje em dia, todo mundo quer, e a mulherada também. – falou Alvinho.

- Sim, uma amiga minha falou: “Eu tenho perereca frouxa pra gringo, dô mermo!” Onde já se viu, hahahah... Morro de rir com essas conversas. Hoje em dia ta todo mundo muito liberal pro meu gosto.

- Pra mim, não tanto. Queria que estivesse mais liberal pra mim. Vou entrar num curso de francês, semana que vem então. – comentou rindo Manolo.

- Sexo tem sua hora – comentou Magrinha.

- Ah mais qual o problema de começar mais cedo. Daqui a pouco estamos todos velhos. – disse Rafa.

- Que nada rapaz, conheci um casal de velhinhos que estão a todo vapor. A senhora começou a fazer um curso de pompoarismo. O velhinho disse que depois que a esposa dele aprendeu, o sexo foi totalmente diferente. Vida nova! – disse a Magrinha.

- A 3ª Idade ta tarada então hein. – comentou Manolo fazendo graça de novo.

- Pô, eu vi isso na internet e no Altas Horas. É muito louco. – disse MaGá se empolgando. – Diz que têm os tais anéis e a mulher pode contrair, relaxar... Umas loucuras aí. Tem até mulher que fuma.

- Foda vai ser o câncer de útero né. – disse Manolo rindo muito da sua própria piada.

- Tá empolgado hoje, hein Manolo. – falou Alvinho rindo da empolgação de Manolo com suas próprias piadas.

- Eu vi na internet que tem campeonato e tudo. Muito louco! Tem mulher que consegue tacar bolinha de ping-pong pra longe, fumar, sugar uma banana e até expelir ela de novo.

- Aí eu vi vantagem! – disse Zéh com um sorriso de sacana no rosto, arrancando risadas.

- Esse da bolinha eu tinha lido também. – comentou a Magrinha

- Imagina tu Magrinha, dava até pra brincar de paintball. Depois de treinada, botava umas bolinhas em tu e cada um pegava numa perna, tu saia atirando igual uma metralhadora. – disse Manolo rindo muito da sua piada.

- Manolo, tu tomo seu tarja preta hoje? Essa foi ridícula! – disse Rafa, mas sem conseguir conter a risada sem graça da piadinha estúpida do Manolo.

- Teve um lugar que eu li que a mulher puxou três líquidos de cores diferentes e depois botou cada líquido em um copo diferente, sem misturar! Absurdo! – contou MaGá, empoladíssimo, como se fosse especialista.

- Ah, aí eu não acredito não. Impossível, essa mulher é um monstro. – comentou Magrinha.

- E completamente desnecessário, pra que sugar bebida pra dentro e depois cuspir pra fora? Agora, já pra outras coisas... Esse papo de pompoarismo deve ser uma beleza mesmo! – disse Zéh com um sorrisão.

MaGá ficou meio cabisbaixo, deixou a historia dos líquidos pro final. Achou que geral ia ficar impressionado com seu conhecimento. Mas depois pensando melhor, não fazia sentido mesmo.

- Foda que li em um lugar...

- Na internet... – disse Manolo dando uma interrupçãozinha debochada em MaGá.

- É. Na internet o que quê tem? Então... A mulher pode destruir uma banana com a vagina, vi num vídeo também! Uma cena terrível. Li que a mulher que sabe o lance do pompoarismo tem uma força terrível lá embaixo, que da pra quebrar e tudo. Tenso! – disse MaGá, o especialista.

- Eu com certeza vou fazer. Assim que tiver meu homem vou fazer. Tem que dar um jeito de dar um UP né, a concorrência ta grande com as piriguetes aí.

- Então Magrinha... Se tu fizer o curso, quando terminar e não tiver com homem nenhum, seria um prazer conhecer essa nobre arte! 

– falou Zéh, cheio de sacanagem.

- Eu sou louca pra aprender, mesmo! – disse Magrinha, sem perceber a direta do Zéh.

- Dou maior apoio, deve ser um diferencial! – falou MaGá.

- Melhor trocarmos de assunto, esse papo de puxar a banana e expelir ta mexendo com minha cabeça. Deve ser uma loucura isso! – comentou Zéh.

- Tem suas vantagens né, tenho que prender meu homem.  Se descobrir que ele ta começando a se engraçar pra outra menina, faço tudo do bom e do melhor com ele. Subo por cima e faço o melhor trabalho que ele já teve na vida. Vou puxando com todo o carinho e delicadeza do mundo, aos pouquinhos vou apertando e travando...

A galera foi se inclinando na mesa e viajando nos comentários da Magrinha. Os olhos da galera brilhavam.

- Isso que é mulher, tem que caprichar pra fazer o homem feliz em casa. – disse Zéh em voz baixa pra não interromper Magrinha e seu conto.

- ... Igual uma viúva-negra pego minha presa e vou puxando, puxando, puxando – vai narrando com uma voz leve e um sorriso sacana no rosto. – até que “PÁH!!” – bate Magrinha com a mão na mesa.

A turma leva um susto de leve, todos engolem seco e dão uma piscada de susto.

- Arranco fora o maldito! Sou mulher pra ser otária não meu filho! – terminou com um sorriso maléfico!

- Tu é sem graça, isso sim! Coisa de maluca! Perdi até a fome. – disse Zéh assustado largando os talheres na mesa.

- Me deu dor no saco só no pensamento! Vamos embora. – sugeriu MaGá.

A turma então resolveu se levantar e seguir pra hora do cafezinho. A Magrinha só ria, perguntava qual era o problema deles.

- Vocês estão muito sensíveis. Ei, não me esquecem aqui não hein! – disse rindo demais da atitude da galera.

Manolo era só risos e se amarrou no conto da Magrinha. Até tentou uma cantada e uma chegada depois, mas nada conseguiu. Provavelmente a piada do paintball não foi uma boa. A turma depois do café então seguiu seu rumo. Uns foram embora até dando umas mancadinhas devido à tão boa interpretação da Magrinha. Leia-se “uns”, MaGá e Zéh, os mais afetados psicologicamente.

"Pompoarismo Radical - Adão Iturrusgarai"

sábado, 28 de abril de 2012

Dr. Edir e o Pôr do sol!


Era fim de tarde quando Dr. Edir estava trancando sua saleta no Sunset RURAL Dreans e vê uma movimentação no sentido do complexo esportivo do condomínio. Já tem muito em sua mente e nem deu bola para a movimentação, até que vê um “haribu” batendo palmas e chamando todos para se despedir do sol.

- Vamos lá galera, bora nos despedir do Sol e sua energia que ele nos proporciona todo dia – clap clap clap – bora galera – exclamava o haribu pelos corredores.

Doutor Edir ajeitou seus óculos, soltou um sorriso no canto da boca e pensou, “Olha só esses ‘naturalistas’!”. Até que o haribu chega ao doutor para chamá-lo.

- Então Doutor, vamos lá? Bora com a gente contemplar os raios que o sol nos fornece todos os dias! – chamou o haribu.

O doutor então ajeita seus óculos e olha fixamente para o haribu e diz.

- Meu jovem, como você disse, “nos fornece todos os dias”. Outro dia, quando tiver algo menos chato pra fazer eu acompanho vocês nessa onda.

- Mas Doutor, isso é algo pra se exercitar todos os dias. É estimulante e revitaliza. Melhora a saúde, e nos deixa mais ligados. Vai por mim. – tenta convencer o haribu.

- Então, o sol nasce e se põe para todos, mas a sombra... É só para os espertos!  - retruca Dr. Edir.

Assim ele ajeita sua bolsa de couro no ombro e segue em direção a seu Monza na entrada do bloco M.

- Relaxa doutor – disse o haribu recolhendo os braços para o alto.

O doutor já tinha se adiantado pra nem ouvir o haribu. Porém próximo dele estava Alvinho, que riu com a frase do doutor e foi perguntar, falar com o doutor pra saber qual era a dele.

- Oh Doutor... – chamou Alvinho.

- Diga meu jovem – perguntou Dr. Edir, solicito ao jovem.

- Realmente boa essa, ouviu de onde? De algum filosofo doido por aí?

- De um canalha aí meu jovem não se apega não. Beijo no C#´! – diz Dr. Edir seguindo seu caminho.

Então o Dr. Edir segue pra seu clássico Monza ’89 e vai embora deixando Alvinho embasbacado com a despedida não muito ortodoxa.

- Esse cara novo não é muito normal mesmo não. Que cara esquisito! – pensou Alvinho em voz alta. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ataque Velhotinamita no Elevador

Existem vários tipos de fobias; aracnofobia, claustrofobia, homofobia e outras. MaGá não tinha medo de velhos, mas quase pegou uma fobia pelos mesmos. Ele precisou apenas de NOVE andares pra isso quase acontecer. Assim como o queijo é derivado do leite, nesse período o que ele mais ouviu foi a palavra velho e seus derivados. Velho, caduco, dentadura, osteoporose, artrite, sogra e outros.

Tudo isso aconteceu no hospital. Tinha que ser né. Manicômio está para os loucos, assim como hospital está paras os velhos. Certo, MaGá estava chato. Um momento TPM, menopausa, andropausa, alguma coisa do tipo. Naquele dia, passou dos 35 pra ele já era velho.

O saguão parecia uma cesta de frutas, mas só que com ameixas e maracujás.

“Nossa... Que horror!”

Já no térreo os velhinhos começaram a atacar sua fúria. Um tiozinho apertava sem parar o botão que chama o elevador.

- Nossa, que elevador lerdo! – reclamava o velho, apertando repetidamente o botão.

“Oh velhote isso ai não é campainha não!”

- Tinha que ter um elevador preferencial – dizia uma velhinha.

“Quer montar em mim e eu te carrego? Cada uma!”

Beleza! O elevador depois de alguns minutos e muita historia de dor nas costas chega. Todos vão entrando, porém o elevador só suporta onze pessoas e um determinado peso. Vai dizer isso para os velhotes.

**Apito chato do elevador**

- Não vai dar não, vai ter que sair alguém. – diz a mocinha dos controles.

Engraçado, ninguém comenta nada. Os dois últimos a entrarem se fazem de maluco como se não fossem com eles. Olham pra baixo, pra cima... Até uma velhinha metida à engraçadinha resolver se manifestar. Aí a confusão tá formada.

- E aí, o último não vai sair não? – diz a engraçadinha.

- É você. – comenta o quarentão.

- Claro que não! Eu cheguei primeiro que você na fila, você que furou fila.

- É... Pesado é o peso da consciência! – comenta um velhote filosófico.

“Ah, vai dar uma de Bial agora? Era mais vantagem eu ter ido de escada...”.

- Mulheres... – sai resmungando e reclamando o quarentão.

“Mulher é F*d4 mesmo! Direitos iguais ‘my left egg’, vai de escada. Ah não, aí seria deselegante”.

Depois de todos ajeitados e o quarentão expulso, a mocinha fecha a porta. Era por volta do meio-dia. Era hora do almoço. Uma velhinha resolveu reclamar da comida.

- Nossa, viu aquela carne? Estava muito dura e foi um sufoco pra minha tia comer. E a sobremesa, pera dura também.

- Esqueceu o Corega minha amiga, Hihihi – mas uma vez a engraçadinha roubando a cena.

- Hehehe... Pior que a dentadura dela caiu na sopa mesmo...

“Velho é sempre inconveniente! Eu nem comi ainda!! Quero ficar sabendo de dentadura na hora do almoço!? Pelamor!”

-... Coitada, ficou cheia de vergonha. – concluiu.

“Só se for de tu! Parece minha mãe fazendo de tudo pra dizer as minhas situações constrangedoras pros outros... Velho tem dessa mania mesmo, adoram causar vergonha alheia.”

No terceiro andar entra um marinheirozinho. Um oficial que estava no elevador pede pra ele levar um documento no 11º. O jovem rir sem graça, não quer, mas o outro é superior né. Nessas horas ficamos quietos e obedecemos, não queremos é problema. Porém os velhotes sempre conseguem um jeito de nos deixar sem graça. Normalmente são os avós, mas velho é velho, sendo da família ou não, parece que quando passa dos 50 o objetivo é esse.

- Acho que ele não gostou muito não, – hihihi – olha a cara de quem não quer levar... – meteu o bedelho a engraçadinha.

“Velha chata, não cala a boca! Vou da um saquinho de vírgulas pra ela.”

- É meu jovem...  Manda quem pode, obedece quem tem juízo! Já passei muito por isso hahaha... – filósofa o velhote, querendo dar uma de engraçadinho também.

O jovem fica todo sem graça...

- Tem algum problema oficial?!! – pergunta o superior, fazendo pose de tal.

- Não senhor, claro que não. Estou indo para aquela direção, Senhor.

Sai o oficial no 4º andar. O marinheirinho fica só na careta pra com a velhinha engraçadinha. Seus olhos diziam:

- Se eu te pego... Te mato! Velha!!!

MaGá sentiu aquela vergonha alheia. Em seguida entra mais 2 senhoras. O assunto era o problema da mãe de uma.

- Minha mãe ta com arritmia...

“Se tua mãe não tivesse nada, e estivesse internada aqui, te levava pra psiquiatria!”

-... O médico falou que o normal de batimento é por volta de 60, 70, por aí. Tem horas que ela chega a 200. Mas segundo ele vai ficar tudo bem. – comenta aliviada.

“200 batidas? Tá mais rápido que o fusca do meu tio.”

Outra senhora entra no meio da conversa. Velho adora fazer isso, abriu uma brecha, tão loucos pra bater um papo... No ônibus, fila de banco, banco da praça...

- A vida é engraçada né...

“Ih! Vai filosofar! Velho se acha Gandhi, Oráculo... Nunca vi gostar de passar experiência”

- A sua esta com problema porque o coração esta batendo rápido de mais, o problema da minha já é porque não tá batendo direito. Veias estão entupidas...

“Isso é problema de boca maldita! Adora comer besteira, nessa idade ainda então...”

- Minha mãe também, só quer saber de comer gordura, glace de bolo... Velha maluca mesmo né! – disse a velha intrusa.

“Ih! A suja falando da mal lavada... Olha a cara de quem já ta usando dentadura, não dou 2 meses pra começar a reclamar da coluna!”

- Se bem que eu deveria estar aproveitando o hospital e ir no médico, essas costas já estão me matando... – completou a velha intrusa.

“Não deu nem 2 minutos!”

- O nove ta marcado? – pergunta MaGá a mocinha dos controles.

- Sim.

- O jovenzinho ta com pressa? Olha que é muito novo pra ter pressa das coisas hein... Hehe – comentou a Velha engraçadinha, dando uma de intrusa.

MaGá responde com um sorriso falso e irônico. Chega o nono andar, pra felicidade de MaGá. Quando sai ele já da de cara com um engarrafamento de cadeiras de rodas. Tinha dois tiozinhos, meio que disputando território. MaGá ameaçava ir pro lado, um deles ia. Ia para o outro, o outro tiozinho chegava junto. Chegando no limite do nervosismo, na beira da fobia... Os dois entram em outro corredor. Num suspiro de alivio MaGá chega ao quarto de sua avó. Ela também estava com arritmia, mas tava mais pra velocidade de um FIAT 147 do que um terremoto no Chile.

- Oi Vó, tudo bem com você? Minha mãe já ta chegando.

- Tudo meu filho, e você? Pega minha bolsa ali, por favor. – apontou e MaGá foi busca-la.

- To bem, ta uma calorzão lá fora, mas aqui dentro tá frescão! Vó tem umas senhoras aqui...

- Aqui meu filho – entregou 50 reais na mão de MaGá – pra você ir comer alguma coisa. Mas o que você tava falando?

- Eu? É...

Chega a Mãe de MaGá.

- E aí Mãe, como você ta, melhorou?

- To bem filha, ta melhor.

- É, bem... vou indo ali na lanchonete... Beijão vó, te AMO! - disse MaGá com um maior sorriso no rosto.

E saiu MaGá feliz da vida. Do lado de fora viu vários velhinhos dóceis e bonitinhos. Quando chegou no elevador pensou duas vezes...

“É melhor ir de escada...”

sábado, 7 de abril de 2012

As Gonçalenses - A Muambeira de Alcântara.

Estamos em São Gonçalo. Terra de tantos Brabos. De personagens como, Seu Jorge da Ponte Engarrafada até Claudinha Leite do Axé. Essa última por sorte foi embora cedo de SG e foi criada em Salvador. E também terra de ninguém mais, ninguém menos que, o enigmático e folclórico, Agostinho Carrara. Nessa terra de gigantes de ser mole, passam o trator!

Alcântara. Terra de negócios. Da China ao Paraguai. Ali se encontram trabalhadores e batalhadores. E também Fernandinha, A Muambeira de Alcântara.

Era sexta-feira. MaGá e a turma resolveram procurar um lugar novo pra uma saideira. O lugar escolhido foi a Vibe Show em São Gonçalo. Morava lá um primo do Manolo, Chico. Já na fila da casa de show se verifica a grande quantidade e, variedade de mulheres que existe em São Gonçalo. Ali, do lado de fora, uma chamou atenção mais que as outras. Pelo menos pra Rafa e Zéh.

Era Fernandinha. Ela tinha atributos que agradavam a cada um deles. Tinha uma bela bunda, o que é preferencia do Rafa. Além de estar vestida como uma típica piriguete, preferencia do Zéh. Fernandinha era uma moreninha de corpo dourado de mais ou menos um metro e sessenta, corpinho gostosura, pelinhos dourados pela água oxigenada, e piercingzinho no umbigo e na língua. Estava vestindo um daqueles calças jeans toda apertada, de levantar o burrão pro alto. As famosas Calças da Gang. Um top tomara que caia mostrando o piercing do umbigo e uma tattoo no ombro esquerdo. Usava umas pulseiras grandes e douradas no pulso esquerdo e um relógio grande, do tipo faustão, dourado no pulso direito.

Fernandinha tava lá na fila com suas amigas, parada com seu rádio modelo Ferrari, colado ao rosto e cheia de charme. Não dava ideia a nenhum homem. Todos os caras passavam por ela encarando. Tudo igual cachorro de rua esperando o pedacinho de carne da mole pra abocanhar. Mas com Fernandinha tem que negociar. Trabalha em Alcântara desde novinha, sabe valorizar seu produto.

Manolo nem curtira tanto Fernandinha, mas como viu que Rafa e Zéh estavam como cachorrinhos admirando ela, resolveu brincar com a situação e tentar, mesmo não querendo algo com ela. Foi à moda gonçalense.

- A princesa ta uma delícia hoje hein... De largar a família! – disse próximo a ela, como se não tivesse falando com ela.

Fernandinha apenas virou o rosto e continuou falando no seu rádio. A galera riu e todos foram entrando. Lá dentro Fernandinha era só chão – chão – chão... Rafa tentou e nada, Zéh tentou e nada. Outros tentaram e era só toco atrás de tocos. Até que no final da noite, por obra do acaso, ela escolheu MaGá como se escolhesse uma mercadoria. MaGá nem se interessou tanto, mas como todo mundo tava pagando pau pra menina, não tinha como dizer não. Pegou. Melhor, ela pegou ele. Depois de alguns minutos se beijando, os dois se falam pela primeira vez.

- E aí Nem!? – disse Fernandinha mascando o chiclete.

Depois que ouviu isso MaGá se arrepiou todo, sentiu um tremendo frio na espinha. “Putz!”. Ele não curtia muito essas Mulheres-Nem. Era mais o tipo do Zéh.

- Hehe. E aí, tudo bem? Meu nome é MaGá. – disse ele, meio constrangido.

- Até que tu é gostosinho, melhor do que a encomenda. Me passa teu número que eu já tenho que ir bebê.

Eles então trocaram os números. MaGá não pensava muito em utilizar, de repente passaria pro Zéh já que é mais o tipo dele. Depois de trocarem os números, se despediram. Ela tasco maior beijão em MaGá.

- Tchau Nem! ...

Ai!” Outro arrepio na espinha de MaGá.

-... A gente marca uma parada depois. – deu outro beijão.

De tabela deixou seu chiclete na boca de MaGá de brinde. MaGá não acreditou, cuspiu o chiclete no chão.

“Que ser é esse meu Deus?!”

A turma foi zoar e brindar a vitória de MaGá. Isso do ponto de vista deles, pegou a mulher que todos queriam. Pra MaGá aquilo era a personificação do pecado. Passou uma semana e MaGá nem lembrava do numero de Fernandinha. Até que seu celular vibra.

[Mensagem de Fernandinha SG]

- Eaí Nem, cmo vai essa força? Agnt podia se esbarra por ai ne. Me resp e apareci. Bjxx!

Putz!” Outro arrepio na espinha!

MaGá não querendo, mas tentando ser educado – era um rapaz ingênuo, não sabia dizer não – responde Fernandinha. Ela por vez faz um ultimato pra ele.

[Mensagem de Fernandinha SG]

- Nem, o negocio e u seguinte. Me encontra sabado em alcantara. Qnd tiver xegando me avisa que te busco na parada. Sabado eh o melhor dia pra mim. Bjxx. T esperando!

“Alcânnnnnnnnnnnntara?! Nããão!!!”

MaGá já passou por Alcântara com Alvinho, foram do RJ até lá pra experimentar um terno de padrinho pro casamento do primo dele. Para MaGá, Alcântara era o inferno sobre a terra. Algo próximo do deserto do Saara e a Faixa de Gaza. Mas como já tinha marcado de ir com Alvinho de pegar o terno, foi pra batalha. Alvinho insistiu.

- Que isso cara, vai lá vê a Nem. Vai que ela é dona de uma loja dessas que vende salgado + guaraná por 2 reais. De repente até um prato feito. Já conseguiríamos um almoço! – diz Alvinho sacaneando MaGá.

Chegando lá se viu no meio ao caos. Terrível. Uma das coisas que mais incomodava ele em Alcântara era o cheio de churrasquinho com diesel. Além de parecer um campo minado. Cada mina era alguém. Ou oferecendo chip de telefone, ou serviço odontológico, ou berrando por natureza. Era o seu pior pesadelo!

- E aí minhas cliente, o “F.Bi.Ai” fechou o “MEGAUPiLODi” mas eu to aberto. Tem de tudo, Filme, série, música, o melhor preço da cidade né não DJ... “Minha vó ta maluca! Minha vó ta maluca! Tanta coisa pra comprar e ela comprou uma peruca!”... Aqui não tem peruca mais tem 3 filmes por 10... A concorrência ta maluca! – berrava o vendedor.

- Chip da TIM! VIVO! CLARO! OI! – berrava uma mulher, dessa vez a evolução do caos, tinha um alto-falante.

Até que Fernandinha aprece do nada no ponto lhe pegando e amassando todo em beijos.

- Demoro hein Nem!

Ai!” Outro frio na espinha de MaGá!

Assim eles se cumprimentaram, MaGá, muito sem graça. Mas com uma coisa fico impressionando. Fernandinha conhecia todo mundo pela rua. Do louco que vendia os DVDs piratas até o cara que comprava ouro.

- E aí Cesão! Não pode parar, vamos vender esses filme que dinheiro não pede pra entrar. – disse ao maluco dos DVDs.

Até que com o cara dos empréstimos...

- Titio Tadeu, qualquer coisa é só chamar!

Tio?!

- Você conhece todo mundo aqui? – perguntou MaGá.

- Ah, Alcântara faz parte dos negócios da família Nem – MaGá não se acostumava a isso. Meu pai toma conta de tudo por aqui, mas foca na vans né, tem tretas com a polícia. Meu tio toma conta dos empréstimos e minha mãe que coordenas as meninas na rua. As que vendem chip e que dão os panfletos.

MaGá ficou espantado, estava com a herdeira do Império das Muambas de Alcântara.

- E você trabalha aqui também? – perguntou MaGá.

- Eu ajudo meu pai na coordenação, viajo pra Foz do Iguaçu pra ver as mercadoria que vem dos primo e viajo pra sampa, ver as mercadoria dos chinas. E tomo conta das lojas de aluguel de roupas. Essa é a parte que eu chefio nas redondezas. Aqui o bagulho é doido Nem. Aqui o movimento é frenético todos os dias. – disse ela mascando seu chiclete.

Até que aparece o pai de Fernandinha. Era Tonhão do Apolo. Um sujeito de se assustar. Morava nos prédios de Alcântara, na verdade, donos deles. Nasceu no Maria Paula, mas lá esfaqueou os dois candangos que o cornearam com suas esposas. Coincidentemente Maria e Paula. Depois de disso fugiu pro Apolo III e lá fez seus contatos. Com certeza MaGá não queria se esbarrar com ele, mas viva ao acaso.

- Quem é tu?! Ta paquerando minha Nandinha? Vem cá mais perto. – disse ele puxando MaGá suavemente pelo pescoço.

- Oh paizinho, só não vai intimidar o Nem. – diz ela fazendo uma bola de chiclete e estourando em seguida.

Que isso, intimidar? Só o nome já traz tranquilidade!

- Olha aqui franzino! Tu abre seu olho, te boto pra andar de Alcântara até Neves de joelho. Opinião de amigo?! Vai cavuca barro em outro bairro. Se comentar algo da nossa conversinha com minha filha... – disse dando um tapinha nas costas.

Por mim eu não passava da Trindade... Nem Deus Pai, Deus Filho e o Espirito Santo tem coragem de ser de Alcântara!

- O senhor tem toda razão. Só to esperando um amigo e já to metendo o pé!

Jesus, o que eu to fazendo aqui?!

- Que bom, vou levar mina filhota pra tomar conta de uns negócios... É a sua deixa franzino!

- Hum rum! – resmungou engolindo seco.

Só restou a MaGá a se despedir  e ir ao encontro de Alvinho, e meter o pé mais rápido possível de Alcântara. Mas era MaGá, e com ele nada é simples. Depois de saber em qual loja de aluguel de roupa Alvinho estava, MaGá foi ao seu encontro. Chegando lá, tinha um maior falatório. MaGá entrou de mansinho procurando Alvinho, mas foi surpreendido por quem fazia parte do falatório. Não era Alvinho, era Fernandinha dos Ternos. Como ela era conhecida nas lojas de Alcântara.

- E aí Nem, fazendo o que aqui? Da um beijinho! – chegou agarrando MaGá pelos dois braços e o beijando.

Alvinho só ria de canto de boca. MaGá ficou paralisado. Além de ser pego de supetão, era Fernandinha que berrava dentro da loja. Mas eram negócios. Um sujeito de Guaxindiba queria alugar um terno, mas o rapaz queria dar de garantia uma galinha da angola.

- Tu acredita nisso Nem?! Na época do meu avô isso até ia, hoje dia pago a policia com o quê? Ovos de ouro? Oh meu senhor, to nem aí se tu conhecia meu avó. Agora é em cash! – falava alto Fernandinha, gesticulando com as mãos.

- É acho que se tem razão. – falava ele cutucando Alvinho pra salvar ele.

- Com certeza você tem toda razão. Mas temos que ir logo né MaGá, tem os preparativos das despedidas de solteiro ainda... Um dinheirão, só um desconto da sua Nem pra melhorar as coisas. – disse ele com um sorriso sacana.

MaGá ficou revoltado, se o Tonhão descobrisse que ele ainda tava dando prejuízo... Não queria nem pensar. Fernandinha, amorosa que tava, arrumou o desconto. Mas fez questão que o MaGá viesse devolver. Saindo da loja, MaGá era só alivio. Alvinho era só risos e gargalhadas.

- Como você foi arranjar um ser EXÓTICO como esse? Hahahah. – disse Alvinho, rindo muito enquanto abria o carro.

Antes de responder só se via uma galinha da angola voando pela janela.

- No dia que essa galinha virar urubu você me procura! – berrava Fernandinha apontando a galinha pro senhor. – Tchau Neeeeem! – berro ela da janela mandando um beijo com a palma da mão.

- Serio Alvinho. Me tira daqui. – respondeu MaGá com uma cara de assustado e entrando no carro.

MaGá nunca mais voltara a Alcântara. Alvinho voltou e teve que se explicar porque MaGá não veio. Como a explicação não foi das melhores, o desconto se fora. Ele tentou argumentar, mas dois gorilas tavam junto com a Fernandinha pra mostrar quem tava certa. A Muambeira de Alcântara tinha gostado de MaGá, tinha até planos pra ele. Iria deixar com ele o comércio de pastel da cidade. Comércio lucrativo, cada esquina de Alcântara tinha uma pastelaria. Azar o dele... Ou sorte né!

domingo, 1 de abril de 2012

Crô, a Excalibur e a Tábula Redonda. [3/3]

O Crô queria muito deslumbre no seu casamento, aproveitou o dinheiro da falecida Rainha do Nilo e se deu o casamento dos seus sonhos. Escolheu a Igreja da Penha, a noite era um espetáculo de cenário. Novelesco. Na casa da Suserana de todas as Múmias, se arrumava para o seu dia. Ronaldo Esper fizera sua roupa. Um shortinho branco, curto e apertadinho até acima do joelho. Um Blazer branco justo. Um óculos de armação preta e extravagante, com um pequeno véu preso em sua haste e uma grinalda, como cereja do bolo. Estava impecável.

Do lado de fora da casa estava Baltazar inconformado ao lado de um clássico Rolls-Royce preto à espera da donzela. MaGá estava na casa observando tudo, estava achando tudo maneiríssimo. No quarto enquanto estava sendo maquiada por Celeste, Crô viu algo pelo espelho que não acreditou.

- Ahhhh! – soltou um berro fino e escandaloso, tampando em seguida a boca com as mãos.

- Que foi Crô, tudo bem? Parece que viu uma aberração! – disse Celeste.

Crô apenas balança positivamente a cabeça com cara de choro.

- Você não viu? – pergunta com as mãos tampando o rosto.

- Não amiga. O que foi? – responde Celeste.

Quando lentamente abre os olhos, lá continuava com um sorriso maligno. Crô sacudia a cabeça como quem quisesse apagar.

- Hello Slaaaave! – disse Tereza Cristina.

- Ai, não! – disse o Crô tapando o rosto novamente.

- Para de escândalo Bixa! – disse Tereza Cristina.                                  

Crô então engole seco e pede pra Celeste deixar ele sozinho um pouco no quarto. Ela questiona, mas no final cede e deixa no quarto Crô e Tereza Cristina, que ela não conseguia ver.

Enquanto isso na Igreja da Penha, Edvaldo recebia os convidados. Tudo que é tipo de famoso estava presente pra prestigiar o Crô. Desde o elenco de Fina Estampa, Adriano o Imperador, personas da comunidade GLBTTS, até celebridades.

- No-no-nossa, que negão ma-ma-ravi-lhoooso. – disse o David Brasil enquanto entrava na Igreja e via o Edvaldo à espera do Crô.

No quarto a sós com Tereza Cristina, Crô tentava entender o que acontecia.

- A Bixa vai ficar brincando de pique - esconde? Olha pra mim! – disse Tereza Cristina elevando o tom da voz.

- Olá minha Rainha do Nilo. – disse destapando o rosto e virando delicadamente de frente pra ela.

- Pelo que estou vendo a biba está muito bem acomodada no meu quarto. – disse Tereza Cristina observando tudo a sua volta.

- É... Estou me virando no que posso, não? – seca a testa com um lencinho. – Que mal pergunte, mas a Vossa Senhoria de Todo O Mal não estava morta? – disse o Crô, repousando uma mão sobre o peito e com a outra ajeitando o cabelo.

- E a Bixa não estava morta? – disse levantando-se da cama. – Você agora é um morto-vivo Crodoaldo Valério. Uma bixa-zumbi! – disse se inclinando e apontando o dedo, debochadamente, pro Crô.

- Ai, que horror! – retrucou tapando com os dedos a boca.

- Deixa de escândalo Bixa! – disse Tereza Cristina.

- Mas o quê a nova Serva de Hades faz nesse humilde mundo? – disse Crô se curvando e fazendo reverência a Tereza Cristina.

- Vim ver essa alegria estonteante do meu leal serviçal. – respondeu Tereza Cristina.

- Mas não precisava se incomodar. – respondeu Crô de imediato.

- Eu não seria convidada Bixa? Afinal, é com minha fortuna que você está bancando essa palhaçada toda né? – disse mostrando toda a arrumação de Crô.

- Lhe mandaria uma carta, uma foto, – falava enquanto gesticulava com a mão – até mesmo um vídeo pra minha Rainha.

Na sala Celeste explicava a MaGá e Baltazar o que estava acontecendo com o Crô.

- Não entendi nada, ele surtou lá dentro do nada e pediu pra eu deixar ele um pouco só.

- Isso é hora daquela gazelinha voltar pro armário? – resmungou Baltazar.

- Vai lá tirar ele de novo Balta, tu já ta encaminhado. Quero dizer, já sabe como é, né. – disse MaGá sarcasticamente.

- Olha só borboletinha, nada de Balta, entendido? E quem trouxe essa Bixa de volta foi você, se quiser tu vai lá. – respondeu Baltazar saindo da sala e indo pro jardim.

- Você vai MaGá? – perguntou Celeste.

- Fazer o que né Solineuza. – respondeu MaGá indo em direção as escadas.

Quando chega em frente a porta do quarto do Crô, antigo quarto da Rainha do Nilo, MaGá escuta Crô falando alto. Não entende nada, estava sozinho quando Celeste saiu.

- Nem que a vaca grite babalu em grego! – ouviu MaGá pelo lado de fora do quarto.

- Crô! – bate três vezes na porta – Crô! – bate três vezes na porta – Crô! – bate três vezes na porta.

- Mas quem é esse maldito papagaio do lado de fora?! – berra Tereza Cristina com Crô.

- Por Zeus! – diz levantando as mãos pro céu. – Entra jovem Perseu! – disse Crô em um berro delicado.

- Mas quem é esse Perseu? Um de seus novos brinquedinhos sexuais?! – perguntou Tereza Cristina cheia de ironia e 
balançando as pontas dos dedos pra Crô.

Enquanto entra no quarto, MaGá vê Crô falando com o nada.

- Não, ele que me ajudou achar meu príncipe de ébano. – disse Crô, falando em direção a cama.

- Hãn!? Você ta bem Crô?! – perguntou MaGá sem entender o que estava acontecendo.

- Ai! O senhorzinho não consegue ver – diz apontando suavemente na direção da cama – mas a Soberana de Todas as Almas está aqui entre nós, nesse exato momento. – disse botando uma das mãos sobre testa e com a outra apontando pro chão.

- Virou paranormal agora também? – perguntou sarcasticamente MaGá.

- Não né, o ignorância sob forma de gente! – disse com cara de emburrado. – A Filha de Osíris veio me atormentar. – disse botando a mão sobre a testa sem bagunçar o penteado. – Quer me levar com ela pro submundo!

- Isso tudo porque você não queria um final novelesco né! – respondeu MaGá. – Mas ela ta por aqui agora? Negocia com ela. – aconselhou MaGá.

- Mas como assim? – perguntou Crô levando uma mão ao peito, com uma cara de curioso.

- Hâhâhâ... E eu agora sou banco pra negociar?! – disse Tereza Cristina com uma risada maligna.

- Pede até a meia-noite pra se casar, daí tu realiza esse teu sonho e pronto. Todos felizes para sempre.

- Agora a Bixa vai virar cinderela!? Só me faltava essa! A bixa vai ficar insuportável!

- Ai que lindo! Um dia Jeannie é um Gênio, no outro, Cinderela! Adorando Jovem Perseu! – disse olhando pro alto com um olhar pensativo.

- Êpa, êpa, êpa! – interrompeu Tereza Cristina a empolgação de Crô.

- Por favor, minha Rainha do Nilo – diz Crô reverenciado no máximo charme possível – deixe esse seu humilde serviçal realizar um sonho de princesa. – disse ajeitando as madeixas.

- Hmn... Pode ser algo de interessante enquanto fico por aqui. – disse coçando o longo queixo. – Mas fique algo bem claro biba, é até meia-noite! – disse apontando um dedo pra Crô.

- Ai, que lindo! – disse Crô rodando em volta de si. – Ai não! Para tudo! Por mil Lady Gagas! – disse levantando as mãos em susto. – E minha noite de núpcias em Búzios? – falou tampando a boca com as mãos. – Não posso ficar sem o meu avelã em cima do bolo! – disse passando uma mão sobre o peito.

Enquanto isso na Igreja da Penha Edvaldo já andava preocupado com a demora de notícias sobre o Crô. E o povo não parava de comentar. Além de Tereza Cristina, outras almas estavam presentes.

- P*RR@! Esse negão vai rasgar esse v!@d* no meio! – comentou Dercy impaciente balançando sua famosa bengalinha preta.

- Imagina a medida desse homem! Huumn... – pensou Clodovil em voz alta, fazendo um bico e olho pro alto.

- P*RR@! A bixa também ta doida pra ser rasgada né. Esses v!@d*s de hoje em dia, se f#d*r! – retrucou Dercy, impaciente.

Na casa Crô e MaGá conseguiram convencer Tereza Cristina a deixá-lo casar, mas a noite de núpcias ficou pra Tereza Cristina pensar e depois do casamento ela daria uma resposta. MaGá prometeu a Crô pensar numa solução, mas que ele já tinha que correr pra Igreja porque a av. Brasil é uma merda e o Edvaldo o esperava. Antes ele de fina estampa, casar na lagoa ou qualquer outro lugar da Zona Sul! Então apressaram Baltazar e foram no Rolls-Royce Crô, Celeste e Tereza Cristina no banco de trás – com o Crô não parando de olhar pra janela e Celeste não entendendo nada. Na frente MaGá e Baltazar, com ele reclamando o tempo todo da vida.

- Acelera aberração! – disse dando uma tapa no ar. – Meu chocolate me espera, tenho que chegar antes que ele derreta. – diz ajeitando o penteado e olhando no espelho de bolso.

- Relaxa bebê! É praste chegar atrasado no casamento. – comentou Tereza Cristina olhando pra janela, como se ignorasse todos.

- Huuum! – disse fazendo bico pra Tereza Cristina – Mas tempo é o que ta me faltando né... Ai minha tão sonhada noite núpcias! – disse se abanando com uma mão.

- Tudo bem Crô? – perguntou Celeste não entendendo a conversa de Crô com a janela do carro.

- Liga não Solineuza, vai da tudo certo! – respondeu MaGá.

Chegando na Igreja da Penha, mas um probleminha de última hora. Quem seriam os Padrinhos? Edvaldo já estava tentando entrar em contato com Crô ou Celeste a muito tempo, mas não conseguia. Edvaldo já tinha o deles, o galã da loja de motos e a professorinha, e o ex-Rosa Chiclete e a filha da Pereirão. Na correria e de última hora Crô escolheu o deles. Já estava meio que certo, apenas não tinha feito o convite. Mas com a pressa da ocasião, virou ordem.

- Zoiudo e Celeste, Jovem Perseu e... – disse se abanando um pouco –  Minha Rainha do Nilo.

- Mas que Rainha do Nilo Crô? Desculpa amiga, mas ela já foi. – disse Celeste tentando consolar Crodoaldo.

MaGá recebeu a notícia com espanto, olhava pra um lado e pro outro tentando ver a tal rainha, mas não consegui ver nada.

- Hmn... A biba ta tentando comprar a noite núpcias? Hâhâhâ... – comentou Tereza Cristina com os braços cruzados.

Depois de toda confusão relâmpago da entrada, lá estavam todos no altar. De um lado os padrinhos do Edvaldo, e do outro Celeste toda chorosa ao lado do Baltazar todo rabugento, e MaGá de braços cruzados com... O nada. Tinha no rosto um sorriso amarelo de todo sem graça, e tinha a impressão de os outros estarem comentando dele. Mas na verdade, o assunto era mesmo, o Crô e o negão.

- Nossa, olha esse chocolate com quem o Crô se arranjo? – comentou a extravagante Valéria.

- Um diamante negro, né Valéria. Já tentou me pegar, mas sabe como é... Eu sou uma mulher difícil né. Linda como eu, não posso dar mole. – comentou Janete.

- Te pegar babuíno? Só se for de porrada, e com uma chave de grife pra ver se acerta esses seus dentes e concerta! – retrucou toda debochada e com gargalhadas a Valéria.

- Hahahah... Você é muito engraçada mesmo Valéria. – respondeu Janete com uma risada medonha.

- Aquilo ta mais pra um Ferrero Rocher, e ainda é mecânico. Me sujaria toda de graxa na mão daquele negão. – se treme toda. – 

Adoraria me lambuzar toooda naquele chocolate. É ferro no meu Chê! Há há há...  Ai, como eu sou bandida! – disse Valéria cheia de risos maliciosos.

Já no altar MaGá tentava ajudar Crô pra noite de núpcias, meio estranho porque falava com o nada, mas tentava algo.

- Então senhoria Tereza Cristina, libera a noite de núpcias pro Crô... Custa nada. – falava MaGá com o nada, com maior cara de maluco.

Enquanto o padre fazia sua cerimônia, Crô só observava de canto de olho Tereza Cristina com um sorriso todo maldoso pra cima dele. Sabia que o tempo tava passando, então olho pro MaGá com uma cara de “Vai, desenrola logo minha noite de núpcias!”. Em meio ao desespero ele meio que da uma paradinha na cerimônia e pede pro padre agilizar a cerimônia porque o tempo urgia e ele também queria dar uns uivos ainda hoje.

Nesse meio tempo, MaGá começou a ver Tereza Cristina a surgir no seu lado. Um baque! Em meio ao susto ela começou a virar o rosto lentamente em sua direção e abrir um sorriso, aquele sorriso... Seguido por uma risada bem horripilante.

“Nossa, parece mesmo aquele boneco dos jogos mortais! Que merda!”

- Então Senhorita Rainha de Todas as Almas e coisas do tipo, tu poderia pegar meio leve com o Crô e liberar ele não? O cara já ta na hora de se aposentar por tempo de serviço prestado. Ajuda aí. 
– tentou argumentar MaGá.

- Hâhâhâ... – riu malignamente Tereza Cristina.

- Leva contigo o Pereirinha, melhor comer um Robalo frito nas profundezas do que uma gazela né, não?! – disse MaGá apresentando um novo ponto de vista.

- Humn... Interessante observação. – disse tamborilando os dedos no queixo. – Pensarei nesse seu ponto de vista. – respondeu Tereza Cristina.

Enquanto MaGá piscava o olho pro Crô como sinal de que tudo deu certo, o Edvaldo já dizia o sim. O Crô de imediato já respondeu.

- SIM!

Antes de o padre terminar a frase de “pode beijar a noiva, ou noivo...” Crô já puxou Edvaldo pelo braço e berrou pra todos.

- Obrigado people pela presença, - dizia as pressas e acenando – mas minha noite de núpcias em Búzios me espera! Vai ser tudo. – disse mandando beijinhos com a mão enquanto andava.

MaGá então vê Tereza Cristina acenar um adeus pra ele, o que fez pensar que iria atrás do Pereirinha. Como de certo aconteceu. Enquanto estava no seu barco, o tempo do nada fechou e do nada apareceu ela ao seu lado.

- E como vai meu Robalo? – perguntou Tereza Cristina num tom malicioso.

- Ou eu bebi demais ou a madame morta ta aqui do meu lado. – disse esfregando repetidamente os olhos.

- Vim te buscar homem das cavernas. O lugar do Robalo é comigo! – disse Tereza Cristina, antes mesmo do Pereirinha poder dizer alguma coisa, os dois somem.

Nesse mesmo momento Crô usou seu piri-pi-plin e já estava com Edvaldo em Búzios. Esperava a muito tempo por isso e já estava no banheiro se retocando.

- Espera meu chocolatezinho... Já estou chegando. – disse abrindo lentamente a porta, e vindo com um roupão branco de seda.

Quando se deparou com Edvaldo de roupão na cama se arrepiou todo, aquilo estava mesmo acontecendo. Quando Edvaldo, deitado na cama, abriu o roupão sobre a cama...

- Aiii! – disse tapando o grito com as mãos. – Essa Excalibur vai acabar comigo... Oh Zeus! – disse olhando pro céu! – Crodoaldo Valério, seja macho! Foi isso o que sempre quis, e é o que vai ter!

- Vem Crô, deita aqui. – disse Edvaldo dando uns tapinhas ao seu lado na cama.

- Ui! – disse olhando pro alto. – É hoje que me lambuzo nessa fonte de chocolate! Aiii! – disse com um sorriso malicioso no rosto e em seguida voando pra cama.

No dia seguinte depois de muito vuco-vuco Crô era só alegria e sorrisos, e cama é claro, o Edvaldo acabara com ele.  Baltazar seguia sua vida reclamando de tudo e de todos, principalmente da sua filha com sua saia curta e seus chão chão chão pela vida. Já MaGá seguiu pra faculdade, nem sabia como dizer isso tudo aos amigos, ninguém acreditaria. Foi como se tivesse tido um sonho muito, mais muito louco!